A complexa relação entre griffith e guts em berserk: Amor, posse ou necessidade militar?

A dinâmica central entre Griffith, o carismático líder da Tropa do Falcão, e Guts, o espadachim solitário, tem sido um dos pilares narrativos mais debatidos da aclamada obra Berserk. Ao revisitar o mangá, surge a persistente questão sobre a verdadeira natureza dos sentimentos do Flagelo de Deus por seu antigo companheiro de armas.

Um espectro de interpretações paira sobre a relação. Por um lado, a intensidade da reação de Griffith ao abandono de Guts sugere um apego que transcende a camaradagem militar. Alguns leitores percebem nos gestos e no desespero latente do líder uma forma de sentimento profundo, talvez até um amor homossexual não resolvido, que torna a saída de Guts da Tropa algo insuportável para ele.

A perda do controle e a ambição de Griffith

Em contrapartida, existe uma análise que foca na personalidade profundamente ambiciosa e, por vezes, egoísta de Griffith. Para essa visão, Guts não era primariamente um objeto de afeto romântico, mas sim a peça mais valiosa de seu exército, o símbolo máximo de sua ascensão e controle. A filosofia de Griffith sempre envolveu a busca incessante por seu sonho, e Guts era a ferramenta perfeita para pavimentar esse caminho.

Nessa ótica, a dor de Griffith pela partida do espadachim seria a primeira experiência real de perda de controle em sua vida meticulosamente planejada. Ver Guts ir embora significava a erosão de sua invencibilidade percebida, a falha em possuir aquilo que ele considerava essencial para sua meta. Essa quebra na sua imagem de onipotência é o que, supostamente, o teria deixado internamente destruído, culminando em eventos trágicos posteriores, como o Eclipse.

O valor estratégico versus a conexão interpessoal

A complexidade reside no fato de que, no universo de Berserk, as duas motivações podem coexistir. A admiração genuína de Griffith pela habilidade de Guts era inegável, assim como o desejo de tê-lo sempre por perto. Guts desafiava Griffith de uma maneira que ninguém mais ousava, forçando-o a considerar fatores humanos em detrimento da frieza estratégica que ele tanto prezava.

O ímpeto do jovem comandante era sempre garantir que todos os seus ativos estivessem sob sua influência. A partida de Guts não foi apenas uma perda de um soldado de elite; foi a perda de uma parte fundamental da identidade que Griffith estava construindo para si mesmo. O cerne da questão permanece aberto à contemplação do público da obra de Kentaro Miura.