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Análise da profundidade de personagens em berserk: A dicotomia entre um vilão magistral e um protagonista questionado

O status icônico de Berserk é debatido ao se avaliar a profundidade dos coadjuvantes, contrastando com a excelência de Griffith.

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Analista de Mangá Shounen

12/11/2025 às 19:50

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O mangá Berserk, obra-prima de Kentaro Miura, é amplamente reverenciado por sua narrativa épica, temas sombrios e construção de mundo densa. Contudo, uma área de análise que frequentemente surge é a disparidade na profundidade psicológica entre seus personagens principais e o elenco de apoio.

No centro do fascínio da série está a figura de Griffith. Sua construção como antagonista é frequentemente apontada como um marco na ficção, sendo descrito como um vilão exemplar, ou um 10 em escala de complexidade e impacto narrativo. Sua ambição desmedida e o caminho que trilha para alcançar seus sonhos, culminando no Eclipse, fornecem um estudo de personagem quase inigualável em seu apogeu.

A figura de Guts e a percepção de simplicidade

Em contraste direto com a complexidade de Griffith, o protagonista Guts, o Espadachim Negro, é por vezes visto com ressalvas. Embora sua jornada de sobrevivência e vingança seja o motor da história, análises apontam para uma percepção de simplicidade em sua personalidade. Essa característica é comparada, em termos de construção arquetípica, a sujeitos como Jotaro Kujo, sugerindo um protagonista taciturno e funcionalmente eficaz, mas talvez menos matizado em suas motivações internas para alguns leitores.

A questão central levantada por essa visão é como uma obra tão aclamada consegue sustentar sua grandeza quando parte significativa de seu elenco parece carecer de desenvolvimento multifacetado. Muitos personagens secundários, apesar de aparecerem em momentos cruciais da trama, são classificados como unidimensionais ou estereotipados.

O elenco de apoio sob escrutínio

Personagens importantes para a narrativa e para o crescimento de Guts após o Eclipse, como Casca, Pippin, Isidro, Serpico, Schierke, Puck, e até mesmo figuras maiores como o Rei ou Mozgus, são colocados na mesma categoria. A crítica sugere que estas figuras são, em grande parte, arquétipos familiares do gênero fantasia, servindo funções específicas sem explorar totalmente suas vidas interiores. Embora personagens como Casca passem por traumas profundos, a narrativa da sua recuperação e identidade é vista como dependente das ações de Guts, ao invés de uma evolução intrinsecamente própria.

Essa avaliação lança luz sobre o foco estilístico de Miura. É possível argumentar que o autor intencionalmente utilizou muitos personagens laterais como forças funcionais do épico - a lealdade, o peso da culpa, o alívio cômico ou o obstáculo teológico - permitindo que o peso narrativo recaísse quase inteiramente sobre o dilema eterno entre a obsessão de Griffith e a resistência visceral de Guts. A força do universo de Berserk, portanto, residiria na absoluta maestria dos seus dois polos opostos, mesmo que o resto do cenário pareça menos detalhado em comparação.

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Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.