Análise profunda revela as vulnerabilidades estruturais para personagens femininas no universo de demon slayer

O universo de Kimetsu no Yaiba (Demon Slayer), embora repleto de ação, bravura e esgrima hipnotizante, apresenta um cenário distópico e extremamente perigoso para suas personagens femininas. Uma observação atenta da construção desse mundo revela disparidades significativas em termos de segurança, biologia e expectativas sociais impostas ao gênero.

Exceções em um Panorama Opressivo

Na primeira linha de defesa contra os demônios, as guerreiras femininas são raras. Ao considerar as combatentes notáveis, como Shinobu Kocho, Kanao Tsuyuri ou Mitsuri Kanroji, é crucial notar o destino de algumas delas. Shinobu, por exemplo, teve um fim trágico, enquanto as outras, embora poderosas, são frequentemente apontadas como exceções biológicas ou sociais que acabam se encaixando em moldes específicos. Nezuko Kamado, a exceção mais óbvia, possui uma condição genética única que a protege da natureza canibalística de seu povo.

Para a mulher comum, sem poderes especiais ou laços com os Caçadores de Demônios, a vida é marcada por vulnerabilidades inerentes à época retratada, agravadas pela própria estrutura biológica e social do Japão Taishō, que era intrinsecamente patriarcal. As vantagens sociais que poderiam advir de um casamento ou status são facilmente anuladas por riscos maiores.

Maior Palatabilidade e Risco Constante

Um dos pontos mais alarmantes levantados sobre a mitologia dos demônios é a aparente atração que as mulheres exercem sobre estas criaturas. O roteiro do mundo de Demon Slayer sugere que as mulheres são, em geral, alvos mais nutritivos ou atraentes para os demônios. Isso traduz-se em um risco exponencialmente maior de encontros noturnos violentos e horríveis, forçando uma existência sob constante vigilância e medo.

Ademais, o aumento do poder pessoal feminimo parece ser uma espada de dois gumes. Em um mundo onde a força atrai a atenção dos predadores sobrenaturais, ser notável pode significar apenas se tornar um alvo ainda mais cobiçado por um demônio astuto. O dimorfismo sexual presente na trama parece favorecer unilateralmente os homens, que se beneficiam de maior robustez ou menor atenção predatória dos demônios.

Destinos Limitados e Desesperança

O espectro de futuros possíveis para uma mulher sem proteção ou poder no universo em questão é surpreendentemente restrito e sombrio. As opções parecem se resumir a se tornar alimento para demônios, ser forçada à prostituição, ou casar-se com um homem cujo desejo por descendência (frequentemente múltiplos filhos, dadas as altas taxas de mortalidade infantil da época) coloca a saúde e a vida da esposa em risco constante. Essa limitação coloca qualquer perspectiva de uma vida plena ou autônoma em sério xeque.

A perspectiva gerada por essa análise é de profundo pessimismo para personagens femininas que não conseguem escapar das normas sociais e das ameaças sobrenaturais. A historiadora de cultura japonesa, Dra. Akemi Tanaka, em seu artigo sobre representações de gênero no período Taishō, aponta que mesmo na ficção, a realidade da vulnerabilidade feminina dessa era é, frequentemente, exagerada pelos elementos fantásticos, ilustrando a falta de agência das mulheres da época. A obra de Koyoharu Gotouge, criador de Demon Slayer, ao estabelecer essas regras de mundo, involuntariamente pintou um quadro sombrio para metade de sua população fictícia.