A teoria cíclica de berserk: Griffith como salvador apocalíptico e a inevitabilidade do caos

Uma linha de análise intrigante sobre a narrativa de Berserk propõe que a ascensão de Griffith ao poder máximo não seria apenas mais um ato de sacrifício, mas sim a conclusão de um ciclo milenar orquestrado pela própria Godhand. A teoria central sugere que, a cada mil anos, um membro da Godhand ascende como um 'salvador supremo', triunfando sobre seus pares para inaugurar uma nova era de domínio.

O Paradoxo do Reinado de Griffith

Sob essa perspectiva, Griffith, ao fundar seu reino e consolidar seu poder divino, estaria essencialmente 'derrotando' os conceitos representados pelos outros membros da Godhand. Elementos como Fome, Peste, Ira e Desejo Seriam superados pela ordem imposta por seu novo evangelho de paz e prosperidade dentro de seu domínio, como o reino de Falconia.

É explorada a possibilidade de que os outros membros da entidade escura tenham falhado ao mergulhar a humanidade em desespero e caos, preparando o cenário para que um indivíduo, como Void - que personifica sabedoria proibida e controle absoluto - parecesse o único caminho iluminado. A subsequente devoção à Godhand seria o resultado final dessa manipulação cósmica.

O Salvador que Traz a Estagnação

No caso de Griffith, sua vitória sobre as forças demoníacas, o Império Kushan, e até mesmo sobre aqueles que se opõem a ele, como Guts e seus aliados, o estabeleceria como o messias da humanidade.

Ele se tornaria um deus para a humanidade, um unificador que erradicou o sofrimento imediato, trazendo paz e prosperidade global sob seu domínio teocrático. Contudo, este triunfo absoluto carrega as sementes de sua própria destruição cíclica. Uma era de paz e ordem total, regida por um dogma religioso conservador e puritano, levaria inevitavelmente ao tédio, à opressão e à estagnação cultural e espiritual.

O Despertar da Oposição

A uniformidade e censura impostas por um reinado perfeito gerariam um novo tipo de desejo reprimido na humanidade. Essa repressão radical à liberdade criativa e intelectual faria com que o anseio por subversão, caos controlado e experimentação proibida ressurgisse com violência latente. Seria esse anseio renovado - o desejo por fantasia sombria, rituais esquecidos e a própria desordem - que forneceria a energia necessária para o retorno dos conceitos que Griffith havia supostamente banido.

Assim, a derrota aparente da Godhand por Griffith seria apenas uma fase de transição. Sua paz seria o catalisador para que toda a gama de desejos humanos reprimidos se manifestasse, reacendendo as forças astrais opostas e garantindo a continuidade do ciclo eterno de caos e ordem que permeia o universo de Kentaro Miura, criador de Berserk.