A reavaliação de griffith: O que mudaria se o comandante não fosse um vilão em berserk?
Uma exploração hipotética força leitores de Berserk a imaginar um Griffith sem sua maldade definidora e seu impacto na trama.

A figura de Griffith, em Berserk, é intrinsecamente ligada à sua ambição avassaladora e aos atos de traição que solidificaram seu lugar como um dos antagonistas mais complexos e detestados da ficção. No entanto, uma linha interessante de questionamento surge ao despir o personagem de sua maldade definidora: o que aconteceria com a percepção do público se ele tivesse trilhado um caminho diferente?
A premissa central dessa reflexão explora um cenário alternativo onde o sacrifício da Banda do Falcão jamais ocorreu. Este Griffith hipotético não teria cometido o horror contra Casca, nem teria usado seus companheiros como moeda de troca para ascender ao reino de Femto. Em vez da escuridão, ele representaria apenas a busca apaixonada por um sonho, contanto que esse sonho não exigisse a aniquilação moral de todos ao redor.
O Teste da Amizade e da Tragédia Acidental
O ponto crucial dessa alteração de caráter reside na reação do personagem a eventos externos que, na linha do tempo original, acentuaram sua crueldade. Um exemplo notório é o incidente envolvendo Adonis, filho do Rei Gaiseric. Na narrativa canônica, a satisfação de Griffith com a morte do garoto, que ele mesmo causou indiretamente, foi um indicativo claro de sua ruptura com a humanidade. No cenário de benevolência, esse mesmo acidente seria recebido com choque e luto.
Quando comparado ao arco de Guts, o protagonista, a questão se torna ainda mais profunda. O foco principal de Guts após a traição é a vingança contra o homem que ele um dia considerou um irmão. Se Griffith tivesse permitido a Guts seguir seu caminho sem sabotagem, liberando-o de sua obrigação com a tropa, a rivalidade poderia ter evoluído para algo menos destrutivo, talvez uma emulação de sucesso, e não um conflito existencial. Para muitos admiradores da obra de Kentaro Miura, a complexidade reside justamente no fato de que a ascensão de Griffith exigiu a negação de laços afetivos, algo diretamente oposto ao crescimento de Guts, que aprendeu o valor da conexão humana.
A Aura do Liderazgo sem Tirania
Griffith, como líder da Banda do Falcão, já possuía carisma inegável, uma visão estratégica brilhante e uma capacidade de inspirar lealdade fervorosa. Essas qualidades, isoladas da agenda sombria, o tornariam, indiscutivelmente, um dos líderes mais admirados da história de fantasia medieval. Ele seria o herói idealizado, aquele que alcança a nobreza através do mérito e da devoção ao seu ideal, sem recorrer ao pacto faustiano.
Um Griffith ético representaria, então, a realização plena do potencial, sem a mancha do sacrifício da Eclipse. A admiração por ele, neste contexto purificado, poderia superar a afeição por Guts? Guts representa a força bruta e a resiliência pessoal; Griffith representaria a capacidade de moldar o mundo através da beleza e da ambição. A preferência entre os dois, nesse viés, passaria a ser uma questão de qual filosofia de vida é mais ressonante: a jornada solitária de redenção ou o triunfo espetacular, mas moralmente íntegro.
A obra Berserk explora magistralmente como a natureza humana pode ser corrompida pelo desejo de poder, e este exercício mental contrapõe essa realidade sombria com um vislumbre de um universo onde a maior ameaça ao idealismo não era a rejeição, mas a tentação da vilania. Explorar essa versão alternativa permite aos fãs analisar o quão pouca margem havia para a redenção dentro da estrutura narrativa estabelecida pelo autor.
Analista de Mangá Shounen
Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.