Reavaliação de griffith em berserk: Os argumentos que o colocam como vítima das circunstâncias e das escolhas de guts
Análise aprofundada que argumenta a favor da postura de Griffith no período pré-Eclipse, focando na importância de guts para a Banda dos Falcões.
A complexa narrativa de Berserk, obra seminal de Kentaro Miura, frequentemente coloca Griffith no centro de debates éticos, mas uma perspectiva emerge ao analisar os eventos que antecedem o sacrifício, concentrando a responsabilidade na trajetória de Guts.
Sob a ótica de um líder visionário, Griffith se destaca. Ele possuía um sonho infantil claro: o de se tornar um rei poderoso. Carismático e um estrategista nato, ele soube extrair o melhor de seus companheiros, provendo liderança, abrigo e sustento para a Banda dos Falcões. Embora seu sonho fosse sua prioridade máxima, sua gestão da tropa era eficaz e protetora, incluindo o resgate de figuras como Casca em seu passado sombrio.
O Papel de Guts e a Ascensão Acelerada
Guts, por outro lado, é apresentado como um lobo solitário, o guerreiro mais forte, mas carente de visão ou propósito pré-estabelecido, encontrando seu valor como ferramenta bélica na Banda. Inicialmente, a relação pode ser vista como exploratória, com Guts sendo utilizado por causa de suas habilidades superiores, culminando em sua promoção a comandante por Griffith. Contudo, o líder não apenas utilizava Guts, mas o integrava a seu círculo emocional, admitindo que passou a se importar a ponto de desviar o foco exclusivo do sonho. A célebre citação de Griffith ilustra esse ponto: "Eu me importei tanto com Guts que parei de pensar apenas no meu sonho. Ele me fez humano. E ser humano me tornou fraco."
Observa-se que Griffith buscava validação e opinião de Guts de maneira única, arriscando inclusive a própria vida por ele, atos incomuns para um comandante em relação a um subordinado.
A Decisão de Partir e Suas Consequências
O ponto de inflexão crucial reside na decisão de Guts de deixar a Banda dos Falcões. Ao confrontar a definição de amizade verdadeira de Griffith - alguém que segue seu próprio sonho com alma e coração, capaz de lutar até mesmo contra o amigo, se necessário -, Guts reage com egoísmo, insegurança e ciúmes. Sua partida, logo após uma vitória importante e com a estrutura política ainda hostil ao grupo, foi vista como uma traição à irmandade que todos haviam construído. A urgência e a necessidade da presença de Gus, o elemento mais forte, tornaram-se evidentes quando ele se retirou em um momento crítico.
A ausência de seu soldado mais potente desestabilizou Griffith. Um líder que sempre tomou decisões racionais perdeu seu ponto de aceleração e, em seu desespero, desmoronou emocionalmente, recuperando a fraqueza da humanidade e, eventualmente, cometendo o crime de traição contra o reino.
O Caminho para o Eclipse
A submissão subsequente de Griffith a uma tortura brutal por quase um ano o levou à beira da aniquilação física e espiritual. Diante da possibilidade de recuperar seu poder e perseguir seu sonho - seja através da morte sofrida ou sacrificando seus companheiros -, o instinto de sobrevivência e a ambição predominam, um caminho que muitos psicólogos argumentam ser a reação natural humana em um cenário extremo. O único ato que permanece injustificável é o que Femto comete contra Casca, motivado puramente pelo ódio direcionado a Guts, fazendo dela a vítima colateral da vingança.
A analogia corporativa, onde um líder integra um funcionário chave, o guia ao sucesso, e este se retira antes de completar a missão estratégica, ilustra o sentimento de desamparo. Se Guts, reconhecendo tardiamente a Banda como família, tivesse permanecido até a concretização do sonho, a cadeia de eventos catastróficos poderia ter sido evitada, pois ele demonstrou ser nada sem a estrutura que Griffith lhe proveu.