A profundidade da escrita de togashi: Foco no desenvolvimento orgânico dos personagens de hunter x hunter

A narrativa de Hunter x Hunter, criada por Yoshihiro Togashi, frequentemente é celebrada por suas complexas reviravoltas de enredo e sistemas de poder inovadores. Contudo, um aspecto fundamental que sustenta a longevidade e a profundidade da obra reside na maneira como o autor trata o desenvolvimento psicológico de seus protagonistas e antagonistas.

Observa-se um apreço notável pela construção de momentos de introspecção, espaços onde os personagens podem processar suas realidades internas sem a pressão imediata das exigências da trama. Essa técnica permite que a profundidade emocional e a arquitetura mental dos indivíduos respirem e se solidifiquem, mesmo que pareçam narrativamente marginais em um dado momento.

A primazia da personalidade sobre o roteiro

Um pilar da escrita de Togashi parece ser a insistência em manter as decisões e ações dos personagens estritamente alinhadas com suas personalidades, perspectivas e sentimentos genuínos. Diferente de narrativas onde os seres fictícios servem meramente como instrumentos para avançar um arco pré-determinado, em Hunter x Hunter, os indivíduos parecem interagir com o mundo como seres autênticos, e não como meros coadjuvantes funcionais do enredo.

Essa abordagem garante que as escolhas sejam sempre character-driven, ou seja, movidas pelo caráter. Isso constrói uma camada de realismo psicológico, mesmo em um universo repleto de habilidades fantásticas como o Nen, estudado em detalhes por fãs e analistas.

O exemplo de Pouf e a negação como força motriz

Um estudo de caso proeminente dessa filosofia de escrita é observado no arco das Formigas Quimera, especificamente nas ações do antagonista Pouf. Apesar de possuir conhecimento lógico de que seu rei, Meruem, estaria em um local específico ao lado de Komugi, a motivação de Pouf foi puramente emocional e interna.

Pouf optou por seguir seu próprio caminho, aquele ditado por seus sentimentos viscerais de negação e lealdade distorcida, dirigindo-se à sala do trono por razões que eram profundamente pessoais e auto-dirigidas. Ele não agiu para cumprir uma ordem ou facilitar um clímax forçado; ele agiu porque não podia aceitar a realidade que o cercava. Esta escolha, embora catastrófica para seus objetivos imediatos, solidificou sua complexidade como personagem.

Ao reservar esses instantes para o desenvolvimento solitário dos indivíduos, Togashi oferece ao leitor percepções valiosas sobre o que realmente impulsiona aquelas figuras. Estes são os momentos silenciosos que definem o peso moral e emocional das grandes batalhas e sacrifícios apresentados em séries como Hunter x Hunter, elevando a obra muito além de um simples shonen de aventura.