A polêmica da redenção em berserk: O tratamento divergente entre farnese e griffith

A narrativa complexa e sombria de Berserk frequentemente incita profundas reflexões sobre moralidade, culpa e a possibilidade de redenção. Um ponto recorrente de intenso debate entre os apreciadores foca na recepção drasticamente diferente dada a dois personagens centrais que cometeram atos questionáveis: Farnese e Griffith.

O cerne da questão reside na expectativa de perdão e na severidade do julgamento imposto pela audiência. Griffith, que orquestrou o sacrifício de seus companheiros no Eclipse e se tornou Femto, é amplamente condenado como irredeemável. A tortura física e psicológica extrema que ele sofreu posteriormente, incluindo a mutilação brutal, é muitas vezes vista como um destino autoimposto, resultado direto de suas ambições desmedidas, como o relacionamento com a filha de um homem depravado.

O contraste com a trajetória de Farnese

Em contraste, Farnese, apesar de seu passado marcado por atos de sadismo refletidos em queimar e torturar indivíduos durante seu tempo como comandante da Santa Cadeia, é frequentemente vista sob uma luz mais branda. Muitas vezes, ela é enquadrada como uma figura trágica, cuja crueldade inicial é atribuída primariamente à sua criação como uma jovem mimada e socialmente desajustada. A severidade do castigo que ela enfrentou, embora significativa em termos de desenvolvimento pessoal, não parece pesar tanto no veredito moral final como ocorre com Griffith.

Essa disparidade levanta questões importantes sobre a aplicação de padrões morais na ficção. Enquanto a jornada de Farnese demonstra uma notável capacidade de mudança e um caminho claro de expiação, a recepção a Griffith permanece inflexível. O argumento sugere que a conexão emocional pessoal ou a identificação com o papel do personagem em prejudicar protagonistas queridos - como Guts - influencia a severidade da condenação.

É inegável que a história de Guts e o trauma do Eclipse colocam Griffith sob um escrutínio intenso. No entanto, a perspectiva que minimiza os atos de certas figuras, mesmo diante de provas de transformação subsequente, sugere uma seletividade na forma como a audiência processa o mal dentro da mitologia de Berserk. A narrativa explora a ideia de que o sofrimento vivenciado pode atenuar a culpa, mas nem todos os personagens parecem se beneficiar dessa clemência interpretativa.

A flexibilidade na aceitação da ideia de que qualquer um pode mudar, exceto quando se trata do antagonista central que causou dor incalculável, é um fenômeno que reflete a profundidade e a complexidade das relações que o autor, Kentaro Miura, conseguiu estabelecer com seu elenco.