A origem do novo griffith: A complexa filiação do renascimento no universo berserk

A figura do renascido Griffith, que emerge na fase final do mangá Berserk, permanece como um dos tópicos mais complexos e debatidos da obra de Kentaro Miura. A sua nova manifestação física, quase idêntica ao seu eu original antes do Eclipse, gerou uma intensa reavaliação sobre os eventos que culminaram em seu nascimento e identidade atual.

Um ponto central na confusão narrativa envolve a paternidade biológica e o ciclo cármico estabelecido após o sacrifício. É um fato estabelecido pelo desenvolvimento da história que o ser que se manifestaria como o novo Griffith tenha sido concebido a partir da união de Guts e Casca. No entanto, este evento foi profundamente corrompido pelo ritual do Eclipse.

A Maldição do Eclipse e a Gestação Sobrenatural

O filho biológico de Guts e Casca, concebido antes dos horrores do Eclipse, foi diretamente amaldiçoado por Griffith no momento de sua ascensão como Femto, um dos membros da Mão de Deus. Esta criança, marcada pelo sacrifício, nasceu sob a influência direta da entidade maligna que consumiu a humanidade de Griffith.

Esta marca e a natureza profana do nascimento criaram uma fusão de destinos. A criança, que se presumia ter um futuro distinto ou, tragicamente, uma devoção forçada ao seu pai biológico (Guts) ou ao seu pai espiritual/antagonista (Griffith), acaba por se tornar o receptáculo da alma renascida do próprio Griffith.

A Transformação no Arco Fantasia

A grande reviravolta ocorre quando este ser, conhecido como a Criança da Lua, se transforma fisicamente no Griffith que a humanidade agora segue como um salvador. Esta metamorfose sugere que a maldição aplicada no Eclipse não apenas condenou a criança, mas também preparou o seu corpo para ser o avatar de retorno de Griffith, consolidando um ciclo que liga Guts, Casca e seu antigo líder de forma inescapável.

A complexidade reside em discernir onde termina a identidade da criança concebida por Guts e Casca e onde começa a influência total do ser que foi Griffith/Femto. A obra de Miura frequentemente explora temas de causalidade e destino, e este renascimento parece ser a personificação máxima de como os laços de sangue e os pactos demoníacos se entrelaçam, forçando os sobreviventes de Falconia a aceitar uma figura que é, simultaneamente, o seu salvador e a encarnação de sua maior tragédia. Esta sobreposição de identidades é o cerne da dor e do conflito que ainda permeiam a jornada de Guts e Casca.