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A natureza sombria dos deuses em berserk: Uma análise da crueldade cósmica na obra

A divindade em Berserk é retratada como inerentemente maligna e indiferente ao sofrimento humano, levantando questões sobre a moralidade no universo de Kentaro Miura.

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Analista de Mangá Shounen

16/10/2025 às 14:49

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A natureza sombria dos deuses em berserk: Uma análise da crueldade cósmica na obra

O universo de Berserk, criado pelo saudoso Kentaro Miura, apresenta um panteão de entidades divinas que se destaca drasticamente da representação tradicional de deuses benevolentes. Uma análise profunda da mitologia da obra revela uma cosmologia onde o poder superior parece intrinsecamente ligado à crueldade e ao cinismo em relação à existência mortal.

A Mão de Deus e o Tribunal das Trevas

O cerne dessa percepção sombria reside nas figuras conhecidas como a Mão de Deus e, posteriormente, o Tribunal das Trevas. Estas entidades não são meros juízes ou guardiões; elas atuam como catalisadores de tragédia, orquestrando sacrifícios e ciclos de sofrimento sem demonstrar qualquer traço de compaixão. A crença comum de que divindades representam a ordem moral é completamente subvertida aqui.

A Mão de Deus é composta por indivíduos que alcançaram a divindade através do Eclipse, um ritual que exige o sacrifício de laços e sonhos. Isso sugere que a ascensão ao domínio espiritual, no mundo de Berserk, exige uma abjuração total da humanidade. A recompensa por isso não é a paz ou a iluminação, mas sim um poder sobre a agonia alheia.

A Indiferença Cósmica: O Conceito de Causality

Um fator chave para entender o comportamento dessas entidades é o conceito de Causality (Causalidade), um destino inescapável que molda o fluxo de toda a existência. Os deuses, em sua maioria, parecem ser manifestações ou servos dessa Causalidade, atuando como engrenagens de um mecanismo cósmico que não se importa se o resultado é felicidade ou desgraça. A moralidade humana é irrelevante para essa força abrangente.

Essa estrutura filosófica contrasta drasticamente com narrativas mais otimistas encontradas em outras obras de fantasia ocidental ou oriental, onde mesmo deuses imperfeitos podem ocasionalmente intervir para auxiliar heróis ou manter um equilíbrio tênue entre o bem e o mal. Em Berserk, o mal parece ser a ordem primária, e qualquer lampejo de bondade é uma anomalia, rapidamente esmagada ou distorcida.

Os Raros Desvios e a Natureza do Espírito

A pergunta sobre a existência de deuses bondosos dentro deste universo é complexa e central para a jornada de Guts. Se as entidades veneradas são malevolentes, a esperança reside em forças menores ou na própria resistência humana. Alguns argumentam que a natureza dos Apostles (Apóstolos) e a própria luta de Guts representam uma forma de desafio à ordem imposta por essas divindades cruéis.

Mesmo aqueles que poderiam ser vistos como guardiões, como as entidades associadas à Fada, a Puck e o mundo espiritual, operam sob lógicas que, embora menos destrutivas que as da Mão de Deus, ainda são distantes das preocupações humanas cotidianas. Eles oferecem conforto e proteção temporária, mas raramente desafiam o destino cruel que a Causalidade impõe.

O legado da obra até seus capítulos mais recentes sugere vividamente que a verdadeira luz e poder moral em Berserk não emanam de reinos divinos, mas sim da teimosia e da força de vontade dos seres mortais que se recusam a aceitar seu lugar prescrito no ciclo de sofrimento cósmico. A ausência de um deus verdadeiramente bom força os protagonistas a se tornarem seus próprios salvadores, um tema poderoso explorado pela densa narrativa do mangá.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.