A moralidade perdida de muzan kibutsuji: O vislumbre de humanidade do antagonista de demon slayer
A transformação de Muzan de um homem doente a um ser maligno levanta questionamentos sobre o que resta de sua alma humana.
A figura de Muzan Kibutsuji, o progenitor de todos os demônios e principal antagonista da série Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba, é universalmente associada à maldade e à sede insaciável de poder. Contudo, a trajetória de sua existência, que se estende por mais de um milênio, força uma análise mais profunda sobre se alguma centelha de sua essência humana original sobreviveu à sua transformação.
A origem de Muzan remonta ao período Taishō, quando ele era um jovem debilitado, sofrendo de uma doença incurável que lhe garantia apenas uma expectativa de vida curta. É neste ponto de desespero que a ambição transborda a necessidade de sobrevivência, empurrando-o para experimentos proibidos e, consequentemente, para a primeira manifestação de sua natureza monstruosa.
O desejo inicial: a rejeição da morte
O impulso que deu origem ao primeiro demônio não era, inicialmente, um desejo de dominar o mundo, mas sim um anseio primal: escapar da dor e da iminente aniquilação. Relatos da narrativa sugerem que o primeiro ‘demônio’ criado por Muzan era uma tentativa fracassada de se curar completamente, uma solução que se revelou muito mais catastrófica do que a doença que ele tentava combater. Este ponto de partida, fundamentado no medo da mortalidade, é frequentemente interpretado como o último vestígio de vulnerabilidade humana.
A chave para entender a possível humanidade residiria nas motivações que o mantiveram operando por tanto tempo, mesmo após o domínio completo. Seu terror constante de ser descoberto e eliminado, especialmente pela Família Ubuyashiki e pelos Caçadores, demonstra uma fixação quase obsessiva com a autopreservação, característica inerente à vida humana, embora levada a um extremo monstruoso.
A ausência de conexões verdadeiras
Ao longo dos séculos, Muzan demonstrou uma incapacidade notória de formar laços genuínos. Seus subordinados, os Doze Kizuki, são ferramentas descartáveis, utilizados por medo ou por sua força, mas nunca por afeto. A única figura que, vagamente, se assemelha a uma conexão emocional é a sua primeira e mais fiel serva, a quem ele transformou, criando uma relação distorcida de servidão e dependência.
A ausência de afeto ou remorso por inúmeras mortes, incluindo a de sua família humana original, cimenta sua imagem como um ser puramente egoísta. No entanto, a persistência em manter um disfarce humano perfeito, vivendo entre a sociedade sem ser notado, sugere que a aparência humana ainda possuía algum valor para ele, seja como escudo ou como um lembrete sutil do que ele renunciou.
Em última análise, se alguma humanidade permaneceu em Muzan Kibutsuji, ela foi completamente sufocada pelo poder e pelo medo. O que resta é uma máquina de sobrevivência, cuja única motivação aparente é garantir que sua nova forma de existência não seja extinta, solidificando um legado de tirania que começou com um simples, mas trágico, desejo de viver.