A longevidade de hunter x hunter: O mangá se sustenta sem o apelo da nostalgia?
Analisamos se a obra-prima de Yoshihiro Togashi ainda cativa leitores sem o filtro da memória afetiva.
O universo de Hunter x Hunter, criado por Yoshihiro Togashi, é frequentemente celebrado como um pináculo do gênero shonen, conhecido por subverter tropos tradicionais e apresentar uma profundidade narrativa rara. Contudo, uma questão fundamental surge quando removemos o verniz do tempo: a obra consegue, hoje, capturar um leitor totalmente novo, desprovido de qualquer memória afetiva ou apego emocional construído ao longo de décadas?
A longevidade de uma série de mangá como Hunter x Hunter está intrinsecamente ligada à sua qualidade intrínseca, mas a nostalgia é um catalisador poderoso na recepção de clássicos. Ao experienciar a narrativa pela primeira vez, sem a expectativa gerada por anos de acompanhamento ou o carinho pelos designs originais dos anos 90, a atenção recai inteiramente sobre a estrutura do enredo, o desenvolvimento dos personagens e a complexidade do sistema Nen.
A força da narrativa sem viés nostálgico
O ponto de partida da jornada de Gon Freecss e Killua Zoldyck, que inicialmente parece seguir um caminho familiar de aventura, rapidamente se desvia. É na evolução dessa premissa que reside o potencial de atração para um público contemporâneo. A narrativa não se acomoda em batalhas de poder progressivas. Em vez disso, ela se aprofunda em dilemas morais, exploração de sistemas políticos e a descrição minuciosa de estratégias complexas.
Em arcos como o Exame Hunter e, notavelmente, a Saga das Formigas Quimera, a escrita de Togashi demonstra uma maturidade incomum para o gênero. A introdução de tons mais sombrios e a representação de consequências reais e brutais para as ações dos protagonistas ressoam com audiências que buscam narrativas mais matizadas. Sem a bagagem da espera, o leitor é forçado a processar a narrativa em seu ritmo, valorizando os momentos de desenvolvimento de personagem sobre a ação incessante.
A complexidade do Nen como atrativo
Um dos pilares mais elogiados da obra é o sistema de poder, o Nen. Diferente de sistemas mais lineares, o Nen opera sob regras rígidas, mas com uma liberdade criativa quase ilimitada para a aplicação das habilidades. Para um novo leitor, entender a anatomia do Hatsu e as restrições que definem o poder de um personagem, como Chrollo Lucilfer ou Hisoka Morow, funciona como um quebra-cabeça intelectual fascinante. Essa camada de complexidade técnica atrai leitores que apreciam profundidade estratégica, similar ao que se vê em obras como Death Note, embora aplicadas em um contexto de aventura.
A ausência de nostalgia permite uma apreciação mais pura pela forma como Togashi manipula expectativas. A maneira como personagens secundários rapidamente ganham destaque e como pilares da trama podem ser abandonados em favor de novos focos narrativos, embora ocasionalmente frustrante para os leitores de longa data, pode ser percebida por um novato como um sinal de ambição narrativa e ausência de medo de experimentar. Avaliado objetivamente, o mangá de Hunter x Hunter se sustenta como uma obra robusta, cujo mérito reside em sua inteligência estrutural e na ousadia temática, elementos universais que transcendem o marcador temporal.