A complexa jornada da redenção e punição no universo de kimetsu no yaiba: O caso da mãe de sanemi
A diferença no destino pós-morte entre a mãe de Sanemi e a oni Daki levanta questões sobre a moralidade e a misericórdia no final do mangá.
O desfecho trágico e, por vezes, ambíguo de certos personagens em Kimetsu no Yaiba (Demon Slayer) frequentemente gera análises profundas sobre temas de redenção e justiça pós-vida. Um ponto de reflexão central reside na disparidade entre os destinos finais de Maria, a mãe de Sanemi Shinazugawa, e Daki, uma das Luas Superiores derrotadas.
Após a derrota de Daki e seu irmão Gyutaro, ambos receberam a oportunidade de ascender ao céu. Daki, contudo, optou por permanecer no inferno para acompanhar seu irmão, demonstrando um forte laço fraternal que, de certa forma, mitigou sua maldade acumulada como oni.
A questão da culpa demoníaca
A justificativa para a chance de redenção de Daki baseia-se no fato de que muitos de seus atos cruéis foram cometidos sob a influência da transformação demoníaca, ou foram atos de autodefesa primitiva contra humanos que a feriram no passado. Embora ela tenha se tornado extremamente violenta, uma parte de sua essência humana sobreviveu.
Em contraste, a mãe de Sanemi, que sofreu imensamente, foi forçada a matar seus próprios filhos após ser transformada em um demônio. O dilema surge porque, durante sua vida humana, ela sempre foi retratada como uma figura protetora, defendendo suas crianças dos abusos sofridos.
A lógica que permearia a concessão de um destino melhor para Daki parece falhar ao analisar o caso da mãe de Sanemi. Se as ações cometidas sob o controle demoníaco, e pelas quais o indivíduo não consentiu em se tornar, não deveriam pesar eternamente sobre a alma, a mãe Shinazugawa deveria ter um caminho aberto para o paraíso, dada sua bondade inerente em vida e o ato forçado sob coerção sobrenatural.
O encontro no submundo de Sanemi
A narrativa sugere uma punição mais severa para a mãe de Sanemi. Quando o protagonista quase sucumbe à morte em batalha, ele tem uma visão vívida, encontrando sua mãe no que parece ser o inferno. Sanemi se oferece para ficar ao lado dela, um gesto que culmina em seu retorno à vida, mas que solidifica a ideia de que Maria não estava destinada a um lugar de descanso.
Essa distinção no tratamento entre os espíritos reavivados força uma análise sobre o sistema de julgamento espiritual dentro da obra. Será que a natureza da transformação ou a consciência da vítima influenciam o veredito final? A trajetória de Maria parece indicar que, mesmo se a culpa do demônio for atenuada, certas transgressões, especialmente contra a família, carregam um peso irremissível, independentemente da causa da transformação.
Enquanto Daki demonstrou um apego humano capaz de reverter sua condenação, a mãe de Sanemi, mesmo sendo uma vítima de circunstâncias trágicas, parece ter sido julgada com base na tragédia final que ela cometeu, mesmo que por força maior. A reflexão permanece sobre os critérios de misericórdia e a dura realidade da justiça imposta aos transformados em Kimetsu no Yaiba.