A profunda influência da arte clássica na estética sombria do mangá berserk
Análise aponta notável paralelos visuais e temáticos entre as obras do artista francês Gustave Doré e o icônico mangá Berserk.
A arte de Kentaro Miura, criador do aclamado mangá Berserk, sempre foi celebrada por sua complexidade e intensidade visual. Em meio a análises da estética sombria e detalhada da série, tem ganhado destaque a notável correlação entre as ilustrações de Miura e o trabalho de mestres da arte clássica, especificamente o renomado gravurista francês Gustave Doré (1832-1883).
Gustave Doré, famoso por suas ilustrações para clássicos literários como a Divina Comédia de Dante Alighieri e a Bíblia, possuía um estilo caracterizado por composições monumentais, uso dramático de luz e sombra (claroscuro) e uma representação vívida do infernal e do épico. Esses mesmos elementos são marcos fundamentais na identidade visual de Berserk.
O diálogo entre o gótico e o brutalismo visual
Ao observar as paisagens desoladas, as arquiteturas góticas opressivas e as representações de demônios e batalhas caóticas criadas por Miura, é possível traçar linhas diretas com as xilogravuras de Doré. O senso de escala, onde personagens minúsculos enfrentam forças avassaladoras ou ambientes colossais, é uma técnica compartilhada pelos dois artistas.
A representação do sofrimento humano e da natureza monstruosa na obra de Miura ecoa a forma como Doré visualizou os reinos de castigo e as descrições apocalípticas da literatura religiosa. A capacidade de ambos de infundir pavor e majestade em uma única imagem é o que estabelece essa conexão artística profunda, transcendendo o tempo e o meio de expressão, seja ele a gravura do século XIX ou o nanquim do mangá moderno.
A influência na narrativa visual
A inspiração de Miura não se limitou apenas à textura visual; ela parece ter influenciado a própria maneira como o horror e o sacrifício são tratados narrativamente. O mundo de Berserk, com seus males onipresentes e sua atmosfera de desespero constante, carrega o peso visual que Doré habilmente aplicou em suas representações do submundo e da tragédia humana. Embora Miura tenha desenvolvido um universo próprio, a fundação estética para evocar o sublime e o terrível parece ter suas raízes na tradição ilustrativa europeia.
Artistas e entusiastas da narrativa visual frequentemente apontam que, ao integrar referências visuais tão potentes, Miura garantiu que Berserk não fosse apenas uma história de fantasia sombria, mas uma obra com profundas ressonâncias históricas na arte ocidental. Essa ligação com o trabalho de Gustave Doré reforça o caráter atemporal da violência e da beleza presentes na saga de Guts e da Banda do Falcão.