A história do século perdido pode ter múltiplas interpretações na narrativa de one piece?
A natureza ambígua do Século Perdido levanta questões sobre a moralidade de Im, Joy Boy e Davy Jones, sugerindo narrativas não binárias.
A profundidade do enredo de One Piece, criado por Eiichiro Oda, frequentemente se manifesta nas áreas mais obscuras de seu universo, especialmente no misterioso Século Perdido. A forma como esse período histórico crucial pode ser interpretado é um ponto central de análise, sugerindo que a linha entre o bem e o mal pode ser muito mais tênue do que aparenta.
A discussão sobre a natureza desse vácuo histórico ganha peso com as referências diretas à relatividade da verdade dentro da própria obra. Uma observação feita por Silvers Rayleigh, ao se referir à jornada de Monkey D. Luffy e sua tripulação, sugere que eles podem chegar a conclusões diferentes das encontradas pela tripulação do Rei dos Piratas, Gol D. Roger, sobre a história do mundo.
A polarização moral e o governo mundial
A atual representação de Imu, a figura central do Mundo, é frequentemente marcada por traços demoníacos. Este retrato sugere uma oposição clara: se Imu representa o extremo do mal, isso implicaria que os protagonistas históricos daquele tempo, como Joy Boy e Davy Jones, estariam do lado da virtude.
Entretanto, a complexidade surge quando se questiona o que seria necessário para que os Vinte Reinos originais, unidos para formar o Governo Mundial, optassem por apoiar um governante retratado como um demônio. Essa escolha extrema sugere que os atos cometidos por Joy Boy ou Davy Jones durante aquele período - ou as consequências desses atos - poderiam ter sido tão destrutivos que a tirania de Imu se tornou a opção menos prejudicial para a estabilidade mundial.
A narrativa, portanto, aponta para uma área cinzenta. Não se trata apenas de uma batalha entre o bem absoluto e o mal absoluto. É possível que as ações de todos os envolvidos - Imu, Joy Boy e Davy Jones - possuam nuances morais que justifiquem as diferentes visões de mundo que persistiram até os dias atuais.
Múltiplas verdades sobre o passado
Se a tripulação de Roger considerou que existem múltiplas análises válidas sobre o evento que culminou no Século Perdido, isso forçaria o público a reconsiderar as informações apresentadas. A história, como frequentemente ocorre em narrativas complexas, parece ser um registro parcial, moldado pela perspectiva dos vencedores.
A expectativa é que Oda consiga tecer essa intrincada tapeçaria ideológica, onde a verdade sobre os Ahjas e as armas ancestrais não seja uma resposta única e definitiva, mas sim um conjunto de evidências que admitem interpretações contraditórias. A genialidade do arco narrativo pode residir em provar que até mesmo os pilares da resistência - como Joy Boy - podem ter tido falhas catastróficas, permitindo que a figura sombria de Imu ascendesse, não como um mal necessário, mas talvez como a única alternativa percebida para evitar um colapso total do sistema.