Hipótese alternativa em berserk: Guts permaneceria se griffith tivesse expressado sua necessidade?

A relação complexa e trágica entre Guts e Griffith, protagonistas centrais de Berserk, é um dos pilares narrativos da obra de Kentaro Miura. Embora a trajetória canônica seja marcada pelo destino inescapável e pelo sacrifício, surge a especulação sobre um momento crucial: o que aconteceria se Griffith tivesse se comunicado de forma diferente com Guts antes do Eclipse?

O cerne da questão reside na natureza da comunicação e da dependência mútua desenvolvida entre os dois. No enredo estabelecido, Griffith enxerga Guts como uma ferramenta indispensável para a concretização de seu sonho real de possuir seu próprio reino, enquanto Guts busca um propósito após se separar do inigualável carisma de seu líder.

A falha na comunicação e o desejo de autonomia

É amplamente reconhecido que o caráter de Griffith, impulsionado por sua ambição messiânica, o impede de buscar apoio emocional ou técnico de forma vulnerável. Contudo, se hipoteticamente Griffith tivesse apresentado um pedido direto, comunicando que precisava de Guts como indivíduo, e não apenas como um ativo militar, a dinâmica mudaria drasticamente. O fator decisivo seria a profundidade desse pedido.

Quando Guts finalmente decide deixar a Banda do Falcão, sua motivação primária é a necessidade de forjar seu próprio caminho e descobrir um sonho que seja exclusivamente seu, um desejo que Griffith, em sua egolatria, nunca percebeu ou soube nutrir no espadachim. Teoriza-se que, se Griffith tivesse reconhecido essa necessidade e, crucialmente, oferecido apoio para que Guts encontrasse seu próprio objetivo, a permanência do Espadachim Negro seria muito mais provável no curto prazo.

O peso da lealdade contra o chamado da liberdade

A lealdade de Guts a Griffith era profunda, mas nunca absoluta, pois ele estava sempre lutando contra a sensação de ser uma peça no tabuleiro alheio. Mesmo com o reconhecimento da importância pessoal por parte de Griffith, a questão se estende ao ponto de Guts ter alcançado um limiar de liberdade pessoal. A incerteza paira sobre se, mesmo com o acordo favorável, Guts conseguiria superar o impulso inerente de se libertar das sombras de uma figura tão dominante.

A estrutura da série Berserk explora a liberdade individual frente ao destino pré-determinado, temática comum em obras de fantasia sombria. A possibilidade de Griffith ter oferecido ajuda genuína a Guts para encontrar seu próprio sonho funcionaria como uma ponte emocional, talvez adiando a separação inevitável. A análise sugere que ele poderia ter permanecido por um período, desfrutando da camaradagem sob uma nova premissa, mas a separação final, motivada pela busca do Eu interior de Guts, ainda pareceria um desfecho lógico, embora em um momento posterior e menos destrutivo para ambos os personagens. A exploração desses cenários alternativos reforça a genialidade da construção de personagens de Kentaro Miura, onde a tragédia é gerada não apenas por atos malignos, mas pela falha na conexão humana fundamental.