A delicada fronteira entre humanos e demônios em kimetsu no yaiba: O dilema da confiança e as regras da corporação dos caçadores
Análise profunda sobre a rigidez da Corporação dos Caçadores de Demônios e o impacto potencial da existência de demônios 'amigáveis' como Nezuko.
A narrativa de Kimetsu no Yaiba (Demon Slayer) é construída sobre a premissa inegociável de que todo demônio é uma ameaça a ser erradicada. Contudo, a presença da irmã de Tanjiro Kamado, Nezuko, uma demônio que resiste ao desejo de sangue humano, força uma reavaliação sobre a natureza da ameaça e a rigidez institucional.
Um ponto central de especulação reside em como a organização oficial, a Corporação dos Caçadores de Demônios, reagiria a indivíduos geneticamente ligados à transformação demoníaca, mas que demonstram alianças com humanos. Se Tanjiro não tivesse a sorte ou a excepcionalidade de sua irmã, personagens que se alimentam de sangue demoníaco, conhecidos como 'Devoradores de Demônios', seriam instantaneamente rotulados como inimigos?
O Precedente dos Devoradores de Demônios
A política da Corporação é clara: demonios são inimigos. A presença de criaturas como os Devoradores de Demônios, que consomem a carne dos monstros para obter poder, apresenta um paradoxo ético e prático. Esses indivíduos, embora tragam a possibilidade de uma arma não oficial contra Muzan Kibutsuji, carregam o estigma e o risco inerente à sua natureza mestiça. A aceitação de tal prática, sem a presença pacificadora de Nezuko, seria quase nula. A presunção inicial, mesmo diante de uma aparente aliança, seria a hostilidade imediata, baseada no juramento da organização de proteger os inocentes de qualquer forma de contaminação demoníaca.
A reação padrão de um caçador experiente, confrontado com uma entidade que exala aura demoníaca - mesmo que não demonstre intenções agressivas imediatas - seria a ação defensiva, se não ofensiva. A hesitação, como a demonstrada por Tanjiro em certas ocasiões, é um luxo que poucos membros da corporação podem pagar, dado o histórico de traições e ataques surpresa perpetrados por onis.
O Impacto Estrutural da Existência Demoníaca Benevolente
A situação de Tamayo e Yushiro, que vivem escondidos operando fora da lei, ilustra o quão frágil é a estrutura social baseada na dualidade demônio/humano. A própria Tamayo, uma médica demoníaca que busca uma cura para sua condição e não deseja ferir humanos, é forçada à reclusão e à clandestinidade. Sua capacidade de existir pacificamente, desenvolvendo tratamentos e coletando informações vitais, depende inteiramente de evitar o escrutínio da Corporação dos Caçadores.
Se Nezuko não representasse o milagre que desafia a lei biológica da espécie, é provável que figuras como Tamayo e Yushiro permanecessem eternamente em sombras. A crença predominante é que a capacidade de um demônio de reter sua humanidade é um mero artifício temporário antes da queda total no instinto predatório. Portanto, qualquer demonio que se apresentasse como 'amigável' seria visto com a mais profunda suspeita, e seria rapidamente confrontado por dever, caso não fosse imediatamente abatido.
A complexidade do enredo reside, justamente, em forçar os personagens a questionar se a lealdade e o caráter podem transcender a biologia definida pelo sangue de Muzan. Este dilema ético molda fundamentalmente as interações e as alianças forjadas em meio ao conflito.