Análise profunda: A possível figura histórica análoga a um carpinteiro crucificado no universo de berserk

O universo sombrio e rico em simbolismo de Berserk, criado por Kentaro Miura, frequentemente convida a audiência a traçar paralelos com mitologias e contextos históricos reais. Embora a figura de Griffith seja universalmente reconhecida por suas conotações messiânicas e de sacrifício - especialmente após o Eclipse -, uma questão mais específica surge dentro da comunidade de fãs: a existência de um arquétipo que se assemelhe mais diretamente à figura histórica de Jesus de Nazaré, um carpinteiro cuja crucificação resultou na fundação de uma religião.

A distinção entre o Messias e o Fundador de Fé

A análise se concentra em diferenciar a figura do salvador carismático e demoníaco, representada por Griffith, daquele que, historicamente, foi um pregador humilde cuja morte cristalizou a fé em uma instituição duradoura, como a Santa Sé (Igreja Católica Apostólica Romana). Enquanto Griffith encarna a tentação do poder e a traição para alcançar um sonho grandioso, a figura hipotética em questão estaria ligada à criação de uma estrutura religiosa baseada no sofrimento e na mensagem, e não na ambição terrena.

No contexto ficcional de Berserk, onde a religião estabelecida é a Santa Sé, é natural buscar a origem dessa instituição em elementos que remetam à fundação cristã. Se Griffith é o ápice da ambição humana corrompida pelo destino místico, quem seria o homem que, através do martírio, forneceu a base moral e o símbolo para séculos de devoção e controle eclesiástico?

O martírio como alicerce da fé em Berserk

A Santa Sé em Berserk é uma entidade poderosa, frequentemente retratada como dogmática e, por vezes, hipócrita, com suas próprias figuras de autoridade e santos. Estes santos, muitas vezes, são mártires cujas histórias são utilizadas para cimentar o poder da Igreja. A procura por um correspondente ao Jesus histórico sugere a busca pelo primeiro mártir fundador, um homem cujo sacrifício foi tão profundo que permitiu a ascensão de uma hierarquia teocrática baseada em sua memória.

Narrativas históricas sobre Jesus de Nazaré enfatizam sua profissão inicial como carpinteiro, um ofício manual e humilde. Traspor essa característica para o mundo de Midland levanta a possibilidade de que um personagem de classe trabalhadora, talvez um profeta menor ou um dos primeiros a desafiar as autoridades pré-Santa Sé, tenha sido crucificado. Esse ato, em vez de levar à ascensão de um comandante militar como Griffith, teria gerado um movimento de resistência ou salvação espiritual que, com o tempo, foi cooptado e institucionalizado.

Diferente da influência direta dos Apóstolos de Griffith (como a Ordem do Falcão Sagrado), a influência deste hipotético precursor seria indireta, sendo moldada através de séculos de doutrina religiosa, onde os detalhes exatos de sua vida seriam substituídos por símbolos convenientes para a manutenção do poder da Igreja. A exploração desses paralelos ajuda a entender como Miura constrói sua crítica às instituições de poder, utilizando as estruturas de fé como pano de fundo para o drama humano e sobrenatural central da obra.