A aparente estagnação do desenvolvimento de personagens na jornada de guts após a saga da ilha em berserk

Uma observação notável sobre a narrativa de Berserk, especialmente após o grupo de Guts embarcar em sua jornada marítima que se seguiu ao Arco do Império do Falcão, diz respeito ao desenvolvimento contínuo dos personagens secundários. Embora a obra de Kentaro Miura seja célebre por suas profundas transformações de caráter, como vistas em figuras como Casca e os próprios Guts e Griffith, percebe-se que os membros da trupe principal parecem ter atingido um platô em termos de arcos de desenvolvimento explícitos.

A consolidação da família encontrada

A fase anterior, nomeadamente o Arco do Milênio do Falcão, funcionou como um período intenso de formação de um núcleo coeso. Este arco foi um condensado dramático, apresentando encontros cruciais e solidificando laços. O clímax dessa construção, que envolveu o quase rompimento da unidade com a partida de Farnese e o confronto com Serpico, serviu para cimentar o grupo. Espacialmente, o ato de deixarem o continente em um barco simbolizou a finalização dessa nova 'família encontrada' da série.

Com a tripulação definitivamente estabelecida após este ponto, a maioria dos personagens coadjuvantes atingiu um estágio de desenvolvimento completo. Eles se firmaram em suas identidades e papéis de apoio a Guts. Isso representa uma escolha narrativa distinta, onde o autor prioriza o desenvolvimento apenas quando ele se torna absolutamente necessário para impulsionar a trama principal ou resolver conflitos internos significativos.

Fantasia: um arco de reflexão e conclusão

A transição para a fase atual, frequentemente chamada de Arco da Fantasia, sugere uma mudança de foco estrutural. Diferente das transformações radicais vistas em arcos anteriores, como o tom sombrio e questionador do 'Black Swordsman' ou o melodrama épico da 'Era de Ouro', o arco atual parece carregar uma corrente subjacente de reflexão e fechamento. A narrativa claramente se inclina para ser a etapa final da obra.

Neste cenário de conclusão, o material foca na jornada interior de Guts, um homem lutando contra um corpo falho e revisitando traumas passados. A exploração de paisagens oníricas e a necessidade de amarrar pontas soltas de tramas antigas tornam-se mais proeminentes. Em vez de introduzir novos conflitos internos para Isidro, Farnese ou Serpico, a presença deles se estabelece como a de arquétipos de verdadeiros amigos e companheiros. Eles existem para apoiar Guts em sua missão final.

O significado da estabilidade narrativa

Essa estabilidade, que à primeira vista pode parecer ausência de mudança, é, na verdade, um reflexo da maturidade alcançada pelos personagens e da fase da história. Quando a narrativa se concentra em amarrar os nós finais, a função dos personagens de apoio muda de atores em processo de formação para pilares de suporte emocional e prático. O próprio confronto com a Divindade do Mar pode ser interpretado como uma derradeira grande provação para este grupo já consolidado, antes de talvez, encararem o destino final de Guts e Casca.