A escassez de animes ambientados nos estados unidos: Uma análise da preferência geográfica da animação japonesa
Apesar da proeminência de personagens americanos em animes, o cenário de muitas obras japonesas ainda se restringe ao Japão ou a reinos de fantasia.

Uma observação recorrente no universo da animação japonesa é a aparente desconexão entre a representação de personagens norte-americanos e a ambientação geográfica das narrativas. Embora a presença de personagens com traços, sotaques ou nomes estadunidenses seja notável em inúmeras séries, o número de animes que efetivamente se passam nos Estados Unidos da América parece surpreendentemente baixo.
A análise de tendências revela que, quando um anime opta por sair do território japonês - o cenário padrão para a maioria das produções originais -, a escolha recai majoritariamente sobre cenários europeus ou, mais frequentemente, sobre mundos de fantasia completamente originais. Isso levanta questões sobre as motivações criativas e editoriais por trás dessa preferência, especialmente considerando a influência cultural e o mercado consumidor que os EUA representam para a indústria de anime.
O domínio do cenário doméstico e a opção pela fantasia
A maioria dos animes recorre a cenários estabelecidos no Japão, aproveitando-se da familiaridade cultural, das arquiteturas reconhecíveis e das estruturas sociais que ressoam imediatamente com o público-alvo doméstico. Quando a fuga do arquipélago é necessária, mundos fantásticos - repletos de magia, tecnologia futurista ou inspirações medievais genéricas - oferecem liberdade criativa ilimitada, evitando as complexidades de replicar com precisão uma nação estrangeira.
O cenário europeu, frequentemente associado a estilos góticos ou cenários de fantasia histórica, também ganha espaço. No entanto, a localização na América, um país com forte presença midiática global, apresenta um desafio e uma oportunidade peculiar para os estúdios de animação. A representação precisa de cidades, subúrbios ou paisagens icônicas americanas exige um nível de detalhe e pesquisa que nem sempre se alinha com o ritmo de produção da animação serializada.
Exceções notáveis e a influência da cultura pop
Embora o nicho seja pequeno, existem obras que ousaram quebrar esse padrão. Títulos conhecidos que se aventuraram com sucesso na ambientação estadunidense incluem franquias que exploram a ação urbana ou períodos históricos específicos. Obras como Banana Fish, ambientadas em Nova York, e Soul Eater, que utiliza uma versão estilizada dos Estados Unidos como pano de fundo para sua escola de combate fantasiosa, demonstram que a ambientação é possível e pode enriquecer a narrativa.
A persistência de personagens americanos, contudo, sugere que a cultura dos Estados Unidos é vista pelos criadores não como um local para se ambientar, mas sim como um arquétipo cultural. Essa dualidade - personagens americanos em Tóquio, mas poucos japoneses em Los Angeles - revela uma interessante dinâmica de representação cultural na mídia asiática. A busca por mais exemplos desse tipo de ambientação continua a ser um tópico de interesse para aqueles que apreciam a maneira como diferentes contextos globais são reinterpretados pela estética do anime.

Analista de Anime Japonês
Especialista em produção e elenco de animes e filmes japoneses originais. Possui vasta experiência em cobrir anúncios de elenco, equipe técnica e trilhas sonoras de produções de nicho, focando na precisão dos detalhes da indústria.