A escalada de poder no universo boruto: Uma análise sobre a dependência de antagonistas extraterrestres e o impacto no desenvolvimento de mundo
A introdução da ameaça Otsutsuki em Boruto é vista como um ponto de inflexão que compromete a construção narrativa original de Naruto, priorizando vilões cósmicos.
A narrativa de Boruto: Naruto Next Generations enfrenta um debate intenso sobre o rumo que sua mitologia tomou após a saga de Naruto. Um ponto central de crítica reside na súbita e drástica introdução de antagonistas de nível cósmico, especificamente o clã Otsutsuki, e como isso supostamente desvirtuou o foco narrativo construído nas gerações anteriores.
A estrutura inicial do universo shinobi, estabelecida por Masashi Kishimoto, valorizava o desenvolvimento de conflitos internos. A superação de limites por lutadores como Naruto Uzumaki frequentemente envolvia a maestria de técnicas complexas, treinamento árduo e, crucialmente, o entendimento das dinâmicas políticas e anseios pessoais entre nações. O arco do Exame Chūnin, por exemplo, é frequentemente citado como um ápice desse equilíbrio, apresentando batalhas emocionantes baseadas em habilidade e determinação, sem a necessidade de ameaças de escala divina.
A Armadilha da Escalada de Poder
O problema identificado por muitos analistas é a aparente repetição de um padrão comum em longas franquias de shonen: quando o protagonista atinge o ápice de poder dentro de sua própria realidade terrestre, a solução para manter a progressão é buscar fontes de poder externas e superiores. No caso de Boruto, essa solução veio na forma de invasores alienígenas.
Ao trazer o clã Otsutsuki, a história introduz antagonistas que são inerentemente mais poderosos do que qualquer entidade puramente terrestre ou até mesmo descendente de seres lendários ninja, como o Ōtsutsuki que deu origem a personagens centrais. Isso cria uma dependência imediata do fator alien para justificar a existência de novos desafios.
Essa dependência é percebida como prejudicial ao world building. Se a ameaça sempre reside em seres interdimensionais ou espaciais, o foco se desvia da riqueza e das complexidades do mundo ninja estabelecido. O conflito deixa de ser sobre a evolução cultural e social das aldeias ninjas e passa a ser sobre a sobrevivência planetária contra um suprimento infinito de ameaças de poder exponencialmente maior.
O Deslocamento da Jornada do Herói
Um dos argumentos mais fortes é a dissonância temporal na jornada dos protagonistas. Enquanto Naruto, na mesma idade, batalhava contra inimigos que dominavam técnicas elementares avançadas com grande esforço, Boruto, ainda adolescente, é forçado a confrontar entidades quase divinas com capacidades físicas e energéticas que superam largamente os mestres de sua geração. Essa discrepância altera a percepção de esforço e conquista.
Personagens como Kawaki, cuja própria existência e trama estão intrinsecamente ligadas às ramificações da invasão Otsutsuki, tornam-se produtos diretos dessa escalada cósmica. O enredo central, que deveria explorar a nova era de paz e os desafios sociopolíticos que ela acarreta, acaba sendo dominado pela preparação para o próximo confronto espacial.
Em essência, a adoção da mitologia alienígena na saga Boruto é vista como um atalho narrativo, que oferece um suprimento interminável de picos de poder, mas que, ao fazê-lo, sacrifica a profundidade do cenário ninja construído ao longo de anos de desenvolvimento de personagens e geografia em Naruto.