O dilema da ficção: O apelo do poder sobrenatural versus a identificação com o realismo

A escolha entre narrativas fantásticas com poderes extraordinários e histórias realistas que espelham a vida cotidiana divide o interesse de muitos apreciadores de entretenimento.

An
Analista de Mangá Shounen

10/11/2025 às 21:20

8 visualizações 4 min de leitura
Compartilhar:

A apreciação pela ficção frequentemente se polariza em torno de dois eixos narrativos distintos: de um lado, obras que exploram o sobrenatural, o magnificente e o extraordinário; de outro, narrativas ancoradas no realismo, onde o público pode encontrar maior facilidade em reconhecer suas próprias experiências e fragilidades.

A atração pelo extraordinário: o fascínio da superação

Obras que envolvem poderes, magia ou capacidades que transcendem as leis naturais despertam um fascínio inerente à condição humana: o desejo de voar, de ser invencível ou de manipular a realidade. Esse tipo de fantasia oferece uma fuga potente do cotidiano e permite que o espectador ou leitor experimente a sensação de poder ilimitado.

Em universos como os de animes de batalha ou histórias de super-heróis, a escala do conflito é frequentemente elevada a proporções épicas. A gratificação reside na observação de personagens que, apesar de enfrentar desafios monumentais, possuem ferramentas intrínsecas para superá-los. O espetáculo visual e a grandiosidade das habilidades são, muitas vezes, o principal motor de engajamento para esse grupo de apreciadores.

Quando o poder se torna metáfora

Embora pareçam distantes da realidade, muitas das narrativas mais bem-sucedidas sobre poderes utilizam essas habilidades como metáforas para questões humanas complexas. O fardo de ter um grande poder, a responsabilidade que ele impõe ou o risco de ser corrompido por ele são temas universais. Um exemplo notório no cenário do mangá, por exemplo, é a análise da natureza humana em títulos que exploram a bestialidade latente, como a série Berserk, onde o poder bruto muitas vezes está atrelado ao sofrimento e à perda.

O conforto e a profundidade do Realismo

Em contrapartida, as obras focadas no realismo oferecem uma conexão mais imediata e visceral com o espectador. A atração aqui não está no que é improvável, mas sim no que é reconhecível. Narrativas que se aprofundam nas complexidades das relações interpessoais, dilemas morais cotidianos ou lutas socioeconômicas criam um senso de empatia profunda.

A identificação com personagens que enfrentam adversidades verossímeis - como problemas de carreira, luto ou conflitos familiares - permite uma exploração mais sutil da psicologia humana. O público se projeta na tela ou na página, usando a obra como um espelho para refletir sobre suas próprias vidas e escolhas, sem a necessidade de elementas fantásticos como intermediários.

A linha tênue entre os gêneros

É interessante notar que o apelo de um ou outro gênero não é mutuamente exclusivo. Muitas obras contemporâneas buscam um equilíbrio delicado. Um enredo pode ser fundamentalmente realista, mas incluir um elemento sutil de mistério ou tecnologia avançada para mover a trama, conferindo um toque de estranheza sem abandonar a base humana da narrativa.

A preferência entre o poder e o realismo, portanto, reflete mais do que apenas gostos estéticos; ela pode indicar a busca momentânea do indivíduo por escapismo épico ou por uma introspecção fundamentada na experiência compartilhada. O que une os apreciadores de ambos os estilos é a busca fundamental por uma história bem contada, seja ela ambientada em um plano astral ou em uma rua comum de uma grande metrópole.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.