O dilema de ceder ao destino: Uma análise dos caminhos opostos de guts e griffith em berserk

Reflexões profundas emergem sobre a filosofia de aceitação versus resistência no universo sombrio de Berserk.

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Analista de Mangá Shounen

21/10/2025 às 07:20

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A obra Berserk, criação inesquecível de Kentaro Miura, frequentemente força o público a confrontar dilemas morais complexos. Um dos pontos centrais de análise reside na escolha de percurso entre os dois protagonistas centrais: Guts e Griffith. A argumentação sugere que, no contexto da tirania da causalidade que rege o mundo de Berserk, a aceitação do destino, exemplificada por Griffith, poderia ser o caminho mais pragmático, ainda que eticamente deturpado.

A premissa fundamental reside na futilidade percebida do sofrimento incessante. Observando a trajetória de Guts, o cavaleiro negro, nota-se uma maré constante de dor, luta e miséria. Cada vitória é efêmera e seguida por um custo pessoal avassalador. Argumenta-se que, mesmo que sua determinação ao enfrentar as potências divinas seja admirável, o resultado prático é apenas a perpetuação da agonia. Tal resistência, vista sob uma lupa determinista, é retratada como uma teimosia contra forças superiores e inalteráveis.

O Sacrifício pela Realização do Sonho

Em contraste, Griffith alcançou seu sonho: possuir um reino, poder e a realização de sua ambição central. O preço pago foi o sacrifício da pureza e, notoriamente, o ato repulsivo contra Casca, um evento que transcende a simples maldade e toca na essência da distorção moral do mundo de Berserk. No entanto, a análise focada puramente na concretização de objetivos argumenta que Griffith negociou seu caminho com a causalidade, aceitando a escuridão para obter luz em seus próprios termos.

O mundo apresentado por Miura é estruturado sobre uma lógica que parece recompensar a traição e o sacrifício alheio, criando um ambiente onde a bondade e o esforço honesto geram apenas punição. Esta estrutura caótica e maligna sugere que esperar um final feliz ou justo ao lutar contra o fluxo cósmico é ingênuo. A comparação é feita drasticamente: seria como viver em um sistema onde atos virtuosos são punidos abertamente, e a transgressão é honrada.

A ideia central é que Guts, ao rejeitar a entrega e insistir em uma batalha contra poderes que ele não pode vencer, está condenado a um ciclo de sofrimento sem fim. Griffith, por outro lado, ao aceitar que no universo de Berserk a luta contra o destino é estúpida, garantiu a realização de sua visão. Mesmo que seu destino final seja sombrio, ele alcançou a glória que buscava, enquanto Guts permanece preso em uma peregrinação de dor.

A reflexão proposta desafia a noção tradicional de heroísmo. No universo sombrio de Berserk, onde a moralidade parece invertida, a única forma de escapar da eterna dor pode não ser a resistência, mas sim a dolorosa e aterradora aceitação de que, às vezes, é preciso negociar com o mal para alcançar qualquer forma de sucesso ou liberdade, seja ela a liberdade de reinar ou a paz obtida através da perda da individualidade no abismo.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.