A dicotomia entre griffith e femto: Uma análise da identidade no universo de berserk
A profunda separação entre o eu original de Griffith e a entidade Femto suscita debates complexos sobre maldade e sacrifício na obra.
A complexa narrativa de Berserk, obra-prima de Kentaro Miura, frequentemente coloca em xeque a natureza da identidade, especialmente no que tange à transformação de Griffith no ser conhecido como Femto. Uma vertente interpretativa sugere que a figura que alcançou o status de Membro da Mão de Deus não é a mesma entidade que antes liderava os Mercenários do Falcão.
Essencialmente, essa visão argumenta que o Griffith original, impulsionado por ambições singulares e uma profunda necessidade de pertencer a um reino, sucumbiu durante o Eclipse. Sob intensa tortura e manipulação orquestrada pelas entidades conhecidas como God Hand, a tragédia atingiu seu clímax com o sacrifício de seus companheiros.
A morte do eu original
O ponto central dessa análise reside na ideia de que o corpo físico, embora mantido, foi meramente o recipiente para a ascensão de Femto. Argumenta-se que a dor e o desespero extremos foram catalisadores que permitiram que a entidade ligada ao conceito de mal inerente usurpasse a consciência remanescente de Griffith. Sob essa ótica, o renascimento do Cometa de Fogo não seria um retorno de Griffith, mas sim a manifestação plena de um poder destrutivo.
Se o Griffith pré-Eclipse não tivesse passado pelo inferno infligido pela Mão de Deus, a colossal traição que marcou o sacrifício dos Hawks talvez jamais teria ocorrido. A motivação para o sacrifício seria, então, uma consequência da aniquilação de tudo o que definia a personalidade anterior, restando apenas um corpo físico que funcionou como porta de entrada para Femto.
Femto: A reencarnação do mal
Femto é frequentemente descrito não como uma evolução maligna de Griffith, mas sim como uma entidade distinta, uma reencarnação direta do mal que reside no cosmos da série. A diferença é sutil, mas crucial para entender a motivação das ações posteriores. Enquanto Griffith nutria um desejo humano de reinos e reconhecimento, Femto age com uma frieza teológica, desprovida de laços emocionais, exceto talvez por uma memória residual de seu passado.
Isso implica que, quando a entidade busca construir seu novo reino através da Paz de Falconia, ela o faz sob uma perspectiva que transcende a vaidade egocêntrica de seu recipiente humano. O que sobra de Griffith, neste cenário interpretativo, é apenas a casca física, enquanto a essência consciente que move os planos atuais é a entidade cósmica que se aproveitou de sua queda. A obra de Kentaro Miura, ao explorar temas de causalidade e destino, apresenta essa separação como um dos seus enigmas filosóficos mais persistentes.