Análise aprofundada questiona decisões de roteiro no arco de garou em "one punch man"
A condução ideológica e o clímax da jornada do herói caçado em "One Punch Man" geraram debate sobre a consistência da narrativa.
Uma análise detalhada sobre o desenvolvimento do personagem Garou, o Hero Hunter, no mangá de One Punch Man sob o traço de Yusuke Murata, tem chamado atenção por apontar desvios conceituais significativos em relação à visão original da obra, especialmente no clímax de seu arco durante o confronto de heróis contra monstros.
O cerne da filosofia de Garou
Até um ponto crucial no mangá, a construção de Garou era vista como ideologicamente sólida. Sua motivação nascia da experiência de ser uma criança maltratada, levando-o a enxergar a justiça promovida pelos heróis como distorcida e dependente da narrativa imposta pelos poderosos. Ele questionava por que o status de vilão era atribuído arbitrariamente, enquanto a hipocrisia dos heróis, como a superficialidade de Sweet Mask, ficava intocada.
O ponto de discórdia central reside na remoção de momentos específicos que solidificariam, de forma brutal e poética, a convicção de Garou. A visão idealizada para seu ápice envolvia ele confrontando os heróis mais fortes após ser repetidamente subjugado e rejeitado. Nesse momento, sua afirmação seria a prova viva de sua filosofia: “Se você não quer ser intimidado, fique mais forte”.
A expectativa era que Garou triunfasse sobre os heróis reunidos, forçando-os a reconhecer sua absoluta força e a validade de sua crença na autonomia e no poder como únicos árbitros da verdade. Essa vitória ideológica, desconfortável e artística por sua falta de moralidade tradicional, representaria o ponto máximo da coerência interna do personagem, onde “o monstro vencedor” confirmaria sua teoria.
A superioridade do confronto no webcomic
O debate se acirra ao comparar essa trajetória com a versão prévia apresentada no webcomic original criado por ONE. A crítica aponta que o confronto final contra Saitama, na versão do webcomic, é artisticamente superior porque o ponto de colapso não é físico, mas sim filosófico.
Saitama funciona como a perfeita subversão da lógica de Garou. Ele é um herói invencível que não se encaixa no paradigma de heroísmo que Garou tanto critica, nem no conceito de recompensa por esforço. A lógica “se esforce para vencer” desmorona completamente diante de Saitama. A derrota de Garou, nesse contexto, advém das perguntas feitas pelo herói careca, que questionam o propósito final de se tornar o mal absoluto e revelam que, no fundo, Garou apenas buscou aceitação, escolhendo ser odiado como um caminho mais fácil.
Este choque destrói as convicções de Garou em seu nível mais profundo, simbolizado visualmente pela rachadura em seu rosto. Essa derrota existencial, infligida unicamente por Saitama, explica seu subsequente estado de vazio e indiferença, inclusive perante a morte.
Desvio no desenvolvimento para o mangá
A abordagem adotada na versão desenhada por Murata parece ter negado essa profundidade temática. Em vez do colapso filosófico, houve uma transição para um Garou anti-herói apressado, envolto em elementos espetaculares como a introdução do Cosmic Garou, a intervenção de Blast e viagens no tempo. Embora visualmente impactantes, essas sequências são vistas como desprovidas do peso simbólico do material original.
A conclusão, que envolve um suposto diálogo terapêutico com Silver Fang, é percebida como uma minimização das consequências sofridas pelo personagem. A ausência de peso narrativo ou de um encerramento com cicatrizes emocionais profundas levanta questionamentos sobre o tratamento dado ao arco de um dos antagonistas mais complexos da série.
Analista de Mangá Shounen
Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.