A crítica ao sistema: Como o capitalismo ressoa como um horror maior nas narrativas de berserk
Uma análise profunda aponta como a representação do sistema capitalista na obra de Kentaro Miura supera traumas fictícios como o Eclipse.
Embora o mangá Berserk seja internacionalmente aclamado por momentos de terror extremo, como o infame Eclipse, uma leitura atenta da obra de Kentaro Miura sugere que o verdadeiro horror reside frequentemente na representação social e econômica do mundo.
A introdução de elementos que espelham o capitalismo, especialmente em arcos narrativos como a Convicção, é vista por muitos como um ponto de inflexão doloroso na jornada do protagonista. Enquanto eventos sobrenaturais, como o sacrifício e a possessão demoníaca, oferecem uma clara dicotomia entre o bem e o mal, as estruturas sociais exploradas levantam dilemas mais ambíguos e, para alguns leitores, mais destrutivos.
O peso da realidade social sobre a fantasia
O argumento central sugere que experimentar o sofrimento de personagens com os quais se estabeleceu um profundo investimento emocional, provocado por circunstâncias sistemáticas, pode ser mais desgastante do que testemunhar desastres de natureza puramente fantástica. O Eclipse, apesar de sua brutalidade gráfica e psicológica, é um evento pontual ligado a forças malignas específicas.
Em contraste, a exploração da ganância, da exploração da fé e da manipulação das massas, temas intrinsecamente ligados à crítica social do capitalismo, representam uma ameaça constante. A forma como Miura teceu essa crítica dentro do arco da Santa Sé, por exemplo, envolve a desumanização lenta e a tirania sutil exercida em nome do lucro ou do poder institucionalizado.
A fragilidade humana frente ao sistema
A habilidade de Kentaro Miura em desenhar sistemas opressores, onde a moralidade é corroída pela busca incessante por ascensão ou riqueza, toca em feridas que ressoam diretamente com as experiências contemporâneas do público. A jornada de personagens presos em maquinações políticas e econômicas, lutando por sobrevivência básica ou pela manutenção de sua dignidade, evoca uma empatia que transcende o horror dos Apostles.
Essa nuance na apresentação do sofrimento humano, onde a maldade é institucionalizada e muitas vezes invisível, confere à obra uma profundidade analítica que alguns leitores consideram mais impactante a longo prazo do que os confrontos diretos com seres extradimensionais. A esperança depositada em figuras lutando contra essas forças sistêmicas - como a torcida pela sobrevivência de certas personagens em meio a esse cenário infernal - reflete o desejo por justiça em face de uma ordem social percebida como destrutiva.