A complexidade do material 'filler' em animes: O caso de bleach e a persistência de arcos ignorados

Revisitar animes assistidos na juventude pode ser uma jornada nostálgica, mas também revela nuances da produção audiovisual que antes passavam despercebidas. No caso de séries animadas de longa duração, como Bleach, a decisão de pular os episódios considerados filler revela-se mais complexa do que em outras franquias.

O material filler, ou conteúdo original criado para a animação que não existe no mangá original, muitas vezes é descartado por espectadores que buscam a narrativa canônica. Em alguns casos, esses episódios oferecem momentos de alívio cômico ou desenvolvimento superficial dos personagens secundários, sendo toleráveis.

O dilema do arco dos Bounts

Observadores que retornam a Bleach, especialmente aqueles que acompanhavam a exibição original, depararam-se com uma dificuldade específica ao tentar ignorar o arco dos Bounts. Embora se saiba previamente que se trata de conteúdo não canônico, a produção da animação incorporou elementos, e até mesmo personagens principais desse arco, de maneira persistente na trama subsequente.

A frustração surge quando a ausência da visualização desse bloco de episódios acarreta a perda de contexto crucial em eventos posteriores. Há relatos de que menções diretas aos antagonistas e até mesmo a inclusão de objetos introduzidos durante o arco, como as bonecas utilizadas pelos Bounts, continuam a surgir em batalhas importantes envolvendo protagonistas como Ichigo Kurosaki.

Impacto na continuidade narrativa

O problema central levantado por quem opta pelo corte se refere a uma suposta dependência narrativa. O espectador se depara com referências constantes, como lutas ou menções a figuras centrais introduzidas nos episódios pulados. Isso força uma pausa na maratona para buscar o material negligenciado, anulando a intenção inicial de acelerar a história.

Uma questão recorrente é se essa dependência se estende a outros arcos de preenchimento, como aquele que introduz novos Capitães da Soul Society. A preocupação é se um personagem introduzido em material não canônico será um elemento fixo na crônica principal da série, exigindo a assimilação completa de todo o conteúdo produzido para a televisão.

Essa situação contrasta com a experiência em outras obras de longa data, onde o filler costuma ser autossuficiente e não referenciado posteriormente. Em produções como o mangá de Bleach, escrito e ilustrado por Tite Kubo, a narrativa canônica segue um caminho distinto, mas a adaptação para anime, em certos momentos, optou por entrelaçar os fios, dificultando a depuração da história para aqueles que consomem o material de forma não linear ou seletiva. A experiência de revisitar a série, portanto, demanda uma decisão consciente sobre o nível de imersão desejado na totalidade da animação.