A sombria ressonância de "o ciclops" de odilon redon com a estética de berserk

A obra "O Ciclops", criada pelo mestre simbolista francês Odilon Redon em 1914, transcende sua época, encontrando paralelos inesperados na cultura pop contemporânea, especificamente na atmosfera densa e grotesca do mangá Berserk.

Redon, um artista conhecido por explorar o mundo do sonho, do misticismo e do terror psicológico, capturou em "O Ciclops" uma figura monstruosa e imponente. A pintura, que geralmente evoca a mitologia grega revisitada pelo prisma do Simbolismo, apresenta uma entidade de magnitude titânica, cuja presença domina a paisagem noturna ou crepuscular.

O monolito de um olho só e o Guts

O ponto de convergência mais notável reside na representação crua e singular da figura central. O Ciclops de Redon não é apenas um gigante mitológico ilustrado; ele carrega um peso visual que remete diretamente ao mundo criado por Kentaro Miura. A escala da criatura, sua solidão opressiva e a maneira como ela se destaca contra um fundo que parece engoli-lo ecoam a jornada solitária de Guts.

Enquanto Berserk mergulha no horror corporal e nas paisagens infernais do Mundo das Trevas, alimentado pela Era das Trevas após o Eclipse, a pintura de Redon apresenta um elemento de horror elevado, quase sublime. A técnica de Redon, com suas cores profundas e texturas que beiram o etéreo, confere ao Ciclops uma presença quase espectral, similar às manifestações demoníacas que Guts enfrenta.

Simbolismo e monstruosidade na arte

A admiração por esta conexão reside na universalidade do tema da luta contra o monstro absoluto. O Ciclops, em seu isolamento colossal, pode ser interpretado como a personificação de um obstáculo intransponível ou de um pesadelo interior manifestado fisicamente. Essa interpretação se alinha perfeitamente com o arco narrativo de Berserk, onde o protagonista não luta apenas contra apóstolos e demônios externos, mas contra o trauma e a escuridão dentro de si.

Esta obra, datada de 1914, oferece uma visão fascinante de como temas de poder esmagador e figurações grotescas - características centrais do mangá, cujos volumes mais recentes continuam a ser publicados após o falecimento de Miura - já estavam presentes na vanguarda da arte simbolista no início do século XX. A capacidade de uma pintura centenária de dialogar com o imaginário de uma obra de fantasia sombria moderna atesta a durabilidade de certas representações arquetípicas de terror e confronto.

Portanto, a análise de "O Ciclops" revela uma ponte inesperada entre a alta arte europeia pré-guerra e a fantasia sombria japonesa, sugerindo que a atração pelo monstro imponente e solitário é uma constante na expressão artística humana.