A natureza paradoxal da causalidade em berserk: Livre-arbítrio versus determinismo

A complexidade metafísica de Berserk expõe o eterno debate filosófico entre o destino imposto e a capacidade de escolha individual.

An
Analista de Mangá Shounen

21/10/2025 às 07:46

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A natureza paradoxal da causalidade em berserk: Livre-arbítrio versus determinismo

A obra de Kentaro Miura, Berserk, transcende o gênero de fantasia sombria, mergulhando em profundas questões metafísicas que ecoam debates filosóficos milenares. Uma das narrativas mais fascinantes reside na estrutura causal do universo da série, exemplificada pela entidade conhecida como a Ideia do Mal, ou o Deus Desejado.

Esta entidade conceitual surge, paradoxalmente, da necessidade humana coletiva de encontrar uma razão para o sofrimento e a ordem do mundo. A criação é, portanto, intrinsecamente ligada à consciência humana: ela é nascida da vontade da humanidade. Contudo, uma vez estabelecida, essa mesma força passa a exercer um controle determinístico estrito sobre o destino das almas, tecendo o caminho inescapável dos seres humanos.

O paradoxo da determinação

O aspecto mais intrigante desta construção é a sua aparente contradição: a Ideia do Mal simultaneamente obedece à vontade humana e, ao mesmo tempo, determina seu destino. Isso espelha diretamente o confronto eterno entre livre-arbítrio e determinismo, um tema explorado tanto na filosofia quanto na cosmologia real, como discutido em textos sobre determinismo.

A mitologia de Berserk utiliza essa dualidade para mapear as jornadas de alguns de seus personagens centrais, oferecendo arquétipos poderosos para cada lado do espectro filosófico.

Guts e Griffith: Os pólos da causalidade

Nesse contexto interpretativo, Griffith emerge como a personificação do determinismo. Ele representa o indivíduo escolhido, aquele cujo caminho parece destinado a transcender a mortalidade e alcançar um patamar divino, independentemente dos custos ou das escolhas morais que o levem até lá. Sua ascensão, culminando no sacrifício do New Bando de Gaviões, sugere uma inevitabilidade dentro do fluxo causal do mundo.

Em contrapartida, Guts, o Espadachim Negro, é visto como o expoente máximo do livre-arbítrio. Sua existência é uma refutação constante da predestinação. Ele esculpe seu caminho não por design cósmico, mas pela sua força bruta, resiliência inabalável e pela vontade singular de proteger aqueles que ama. A persistência de Guts em lutar contra o que parece ser o curso natural dos eventos é o cerne dramático da narrativa.

Essa tensão entre o que é escrito e o que pode ser reescrito pela força de vontade individual confere a Berserk uma riqueza temática rara. A obra não oferece respostas fáceis, mas usa o cenário místico e brutal para questionar se somos simplesmente marionetes de forças maiores, ou se a luta incessante é, em si, a verdadeira liberdade.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.