A ausência gradual de saitama no anime one-punch man levanta questionamentos sobre a identidade da série

A narrativa do aclamado anime One-Punch Man parece estar passando por uma inflexão tonal significativa, especialmente a partir de sua segunda fase, um ponto que tem gerado intensos debates sobre a direção criativa da obra. Originalmente celebrada por sua subversão ousada dos tropos de animes shonen, a série agora enfrenta críticas sobre a diminuição da presença do protagonista, Saitama, o herói capaz de derrotar qualquer inimigo com um único soco.

A primeira temporada de One-Punch Man conquistou o público justamente por colocar Saitama no centro da ação, usando seu poder absoluto como veículo para satirizar clichês de superação, treinamento exaustivo e a construção de poder vistas em animes de luta tradicionais. A presença constante do herói calvo e entediado garantia que o tom paródico se mantivesse firme.

O deslocamento da atenção narrativa

Observadores apontam que, nas temporadas subsequentes, houve um claro deslocamento do foco. Ao invés de acompanhar as reações cômicas ou existenciais de Saitama diante do desequilíbrio de poder, a trama passou a dedicar mais tempo ao desenvolvimento de outros personagens e arcos complexos. Isso inclui, notavelmente, a ascensão e o aprofundamento dramático do caçador de heróis Garou.

Embora o desenvolvimento de personagens secundários, como os membros da Associação de Heróis, seja uma evolução natural em narrativas longas, a crítica central reside no fato de que, com o protagonista relegado a coadjuvante em muitos episódios, o propósito fundamental da série se esvazia. Quando Saitama não está ativamente desafiando ou ironizando a estrutura shonen, a série corre o risco de se tornar exatamente aquilo que prometia criticar.

A tese defendida é que, sem a constante âncora cômica e destrutiva de Saitama, a série caminha para se assemelhar a um típico anime de ação shonen, com lutas prolongadas, desenvolvimentos morais e a construção de narrativas de vilões mais tradicionais. A força da obra residia na tensão entre a ameaça colossal e a rapidez com que ela era resolvida pelo seu protagonista entediado.

Novas prioridades em detrimento da sátira?

A análise sugere que, se o objetivo primordial do criador original, conhecido como ONE, era essencialmente o humor da desproporção, a ênfase nas sequências de luta de outros personagens, como visto em momentos cruciais das adaptações animadas mais recentes, indica uma mudança nas prioridades de execução para a equipe de produção. A audiência se pergunta se a essência de paródia pode sobreviver quando o elemento central dessa paródia tem menos tempo de tela, transformando Saitama em um elemento situacional, ao invés de um motor narrativo.

Essa transição força o público a reavaliar o gênero ao qual One-Punch Man pertence, migrando de uma sátira para um drama de ação com elementos cômicos ocasionais, dependendo da frequência com que o herói de fato aparece.