A ausência divina na saga de muzan kibutsuji: Uma análise sobre a longa dor da humanidade
A persistência do Rei dos Demônios por milênios levanta questões teológicas sobre a inação de forças superiores.
A narrativa épica envolvendo Muzan Kibutsuji, o progenitor e mais antigo vilão da série Kimetsu no Yaiba, acende um debate fundamental sobre a estrutura de poder e a intervenção sobrenatural dentro daquele universo ficcional. Por um período que se estende por um milênio, Muzan perpetuou um ciclo de terror e sofrimento contra a humanidade, o que inevitavelmente leva à reflexão: onde estavam as entidades divinas ou forças de equilíbrio capazes de deter tamanha malevolência por tanto tempo?
O Rei dos Onis não é apenas um demônio particularmente poderoso; ele é a personificação de um mal que se infiltrou e corrompeu a sociedade de forma sistêmica. Enquanto o Demon Slayer Corps, ou Corpo de Caçadores de Demônios, dedicou gerações à luta, sua existência dependeu de métodos extremamente custosos em vidas humanas e sacrifícios individuais. Essa resistência prolongada sugere uma ausência ou uma neutralidade ativa das divindades que, em muitos sistemas mitológicos, seriam esperadas para intervir em crises existenciais como esta.
O Paradoxo da Onisciência e Inação
Em universos onde forças espirituais ou celestiais detêm grande influência, a tolerância de mil anos de sofrimento sob o jugo de uma única entidade maligna é um ponto de tensão. Se existissem deuses cientes do sofrimento, sua aparente inação levanta o clássico problema do mal, adaptado para a ficção. Seria um fator limitante no poder dessas entidades, um acordo cósmico que proíbe a intervenção direta, ou simplesmente um reflexo de que o conflito entre o bem e o mal deve ser travado em um plano mais terreno e palpável?
A ausência de uma intervenção milagrosa ou de um decreto divino enviando um anjo ou um poder destrutivo imediato força os personagens mortais a desenvolverem suas próprias soluções. Isso concentra a agência narrativa nos esforços humanos, como o aprimoramento das técnicas de respiração e a organização do Corpo de Caçadores de Demônios, cujas origens remontam à era do Período Feudal japonês.
A Moralidade e a Escala do Conflito
A longevidade de Muzan como ameaça também serve para dimensionar o significado da vitória final. Se uma força externa resolvesse o problema rapidamente, o valor dos sacrifícios feitos por Tanjiro Kamado e seus predecessores seria diminuído. A luta contra Muzan Kibutsuji se torna, portanto, uma saga sobre a resiliência humana contra a tirania incompreensível, em vez de uma batalha garantida pelo favor celestial.
Essa perspectiva sugere que, no mundo da história, a estrutura de poder cósmica prioriza o livre arbítrio ou a autossuficiência das raças mortais, mesmo que isso implique um custo agonizante em termos de tempo e vidas perdidas. A longa noite de terror só terminou quando os humanos, usando os recursos e conhecimentos que acumularam, conseguiram forjar as armas e as estratégias necessárias para derrotar a imortalidade corrupta de Muzan.