Análise temática: A possível herança de conan, o bárbaro, em guts e griffith de berserk

Uma perspectiva fascinante dentro da análise de narrativas complexas sugere uma desmembramento do arquétipo clássico do herói bárbaro, personificado por Conan, o Bárbaro, e sua manifestação em duas figuras centrais da obra Berserk: Guts e Griffith. A ideia central é que o herói primal, com sua força bruta e desejo irrefreável por liberdade, teria sido partido em duas entidades que representam seus extremos opostos, moldadas pela tragédia e ambição.

Conan, o personagem criado por Robert E. Howard, encapsula a ideia do 'selvagem nobre' que percorre reinos civilizados, impulsionado pela sobrevivência e pelo poder pessoal. Ao observar Guts, o protagonista de Berserk, nota-se a encarnação da faceta mais crua e implacável desse ideal. Guts é o guerreiro movido pela espada e pela vingança, um exilado que rejeita dogmas e estruturas sociais, vivendo em um estado constante de batalha física e emocional contra forças que transcendem sua compreensão inicial.

O Dualismo Arquetípico

A dicotomia se aprofunda quando Griffith é introduzido no contexto dessa comparação. Se Guts representa a fisicalidade e a rejeição da sociedade de Conan, Griffith personificaria o lado da manipulação, da busca incessante por um reino almejado e da crueldade necessária para atingir um ideal elevado. Embora Griffith comece sua jornada com um carisma e ambição que paradoxalmente lembram a ascensão de Conan a rei em algumas iterações, sua transformação em Femto o leva a um domínio de poder que é puramente malévolo e distante da moralidade ambígua do bárbaro original.

Essencialmente, a teoria postula que a essência de um personagem mítico como Conan foi dividida: a força indomável e o foco no combate direto ficaram com Guts, enquanto a sagacidade política, o desejo de construir um império e a capacidade de sacrifício extremo - mesmo que demoníaco - recaíram sobre Griffith. Pense na jornada de Conan: ele é frequentemente forçado a comprometer sua pureza em nome da sobrevivência ou do poder. Guts e Griffith parecem ser essas duas tentativas de alcançar o poder máximo, mas através de caminhos ideologicamente opostos.

Essa divisão conceitual oferece uma nova leitura sobre a eterna rivalidade central de Berserk. Não se trata apenas de um conflito entre amigo e amigo, ou bem contra o mal em termos simplistas. É o choque de duas faces de uma mesma moeda arquetípica, cada uma carregando uma parte da natureza do herói bárbaro, mas corrompida e amplificada pelos eventos traumáticos de suas vidas. A obra de Kentaro Miura, assim, ecoa mitologias antigas, reembalando-as em um contexto fantasia sombria, onde a busca pelo poder absoluto inevitavelmente exige uma fragmentação da alma humana, como sugerido pela comparação com o lendário Conan, o Bárbaro.