Análise: Mudanças da adaptação animada de hunter x hunter e o impacto na percepção de poder

A adaptação animada de um mangá aclamado como Hunter x Hunter frequentemente navega em um terreno delicado entre a fidelidade ao material original e a necessidade de criar um produto audiovisual dinâmico. Recentemente, pontos específicos do arco das Chimera Ants têm gerado considerações sobre como as alterações feitas pela animação redefiniram certas dinâmicas de poder e percepção entre os personagens.

Um foco central da discussão reside na inclusão explícita de um diálogo na tela que equipara o poder de Gon Freecss ao do Rei Meruem. No mangá de Yoshihiro Togashi, a extensão da capacidade de Gon após seu sacrifício é inferida pela reação estupefata dos outros personagens e pelo subsequente choque de Meruem ao receber o golpe. A versão do anime optou por verbalizar essa equivalência, uma escolha que, embora possa satisfazer espectadores que preferem a clareza explícita, altera a sutileza com que Togashi construiu o ápice da transformação de Gon.

A Reação de Pitou e a Mudança de Ritmo

A análise se aprofunda ainda mais na representação da luta entre Gon enfurecido e a Pitou, a Guarda Real Neófita. Um ponto de divergência notável é a reação de Neferpitou ao ser atacada por Gon.

Na animação, Pitou demonstra surpresa ao ter um de seus ataques esquivado ou defendido por Gon. Esta reação de espanto de um ser que, mesmo diante da forma final de Gon, deveria manter um nível de superioridade intelectual e tática (pelo menos inicialmente) levanta questões sobre a construção da ameaça. No material original, que é a obra canônica, a composição da cena e a ausência de uma reação de surpresa por parte de Pitou reforçam a noção de que o poder liberado por Gon era tão aberrante que superava qualquer parâmetro de treinamento ou habilidade pré-existente que os leitores pudessem antecipar.

A inclusão dessa surpresa na animação serve para humanizar ou, talvez, diminuir momentaneamente a aura de invencibilidade de Pitou perante o público que acompanha a animação. Essa alteração cinematográfica pode ter sido pensada para aumentar o impacto dramático do momento em tela, mas a ausência dessa reação no mangá sugere uma abordagem narrativa diferente sobre como o feito de Gon deveria ser recebido: não como um susto visual, mas como uma quebra de Lei fundamental do universo da obra.

Essas decisões de adaptação, comuns em adaptações de obras longas, forçam uma reavaliação sobre o que significa acompanhar uma história em diferentes mídias. O ritmo da narrativa de Togashi no mangá muitas vezes confia no silêncio e na leitura da linguagem corporal para transmitir o peso dos eventos, enquanto o anime, usando a voz e a animação de reações visuais, busca intensificar a experiência imediata do espectador. O cerne da discussão reside em qual abordagem comunica de forma mais eficaz a magnitude do sacrifício de Gon e o terror que ele infligiu aos antagonistas mais fortes do arco das Chimera Ants.