Análise aponta inconsistências de mundo em hunter x hunter apesar da aparente qualidade da obra

Embora aclamado como um marco do gênero shonen, o mangá e anime Hunter x Hunter, criado por Yoshihiro Togashi, continua a gerar análises profundas sobre sua estrutura narrativa. Observadores dedicados, mesmo após reconhecerem a qualidade intrínseca da série, apontam para certas conveniências de enredo que parecem contradizer o mundo perigoso que a trama constrói.

Um ponto central de questionamento reside na aparente discrepância entre a letalidade ostensiva do universo Hunter x Hunter e a estabilidade de muitos dos locais visitados pelos protagonistas, Gon e Killua. O narrador em questão, após persistir na obra até o capítulo 48, admite ter superado a barreira inicial de percepção, entendendo a aura sombria e subversiva da história que o afasta da expectativa de um shonen genérico.

A questão da escala e letalidade

O arco dos Exames Hunter, um marco inicial na série, é frequentemente citado. Em um evento que começa com cerca de 400 participantes, drasticamente reduzido a apenas nove para as fases finais, presume-se uma taxa de mortalidade elevadíssima. No entanto, surge o paradoxo: se a eliminação é tão severa e o risco de morte tão iminente mesmo durante os testes, como pode haver um número suficiente de sobreviventes que se estabelecem como figuras regulares ou conhecidas do sistema?

Essa observação se estende a outros locais cruciais para o desenvolvimento dos personagens principais. O Complexo Zoldyck, por exemplo, apresentado como a fortaleza de uma família de assassinos lendários, é visitado pelos protagonistas encontrando o que parecem ser desafiantes de baixo nível aguardando fronteira após fronteira, prontos para um sacrifício quase ritualístico. Isso sugere uma frequência de tentativas de invasão ou desafio que beira a rotina.

A estabilidade de cenários de alto risco

A Torre do Céu (Heavens Arena) oferece outro exemplo de inconsistência percebida. Este local é explicitamente um campo de treinamento e combate para indivíduos de alto nível. No entanto, quando os novatos, como Gon e Killua, chegam, encontram imediatamente um quadro de lutadores experientes que parecem estar permanentemente disponíveis e dispostos a medir forças com os recém-chegados, questionando sua identidade como forasteiros. O perigo inerente de tais locais, onde a morte parece ser uma ocorrência comum, contrasta com a conveniência de sempre haver adversários adequados e acessíveis no exato momento da necessidade narrativa.

Essas convenções, embora possam ser justificadas pela necessidade de manter a progressão da aventura e apresentar desafios coerentes para os heróis, geram um ruído na imersão para leitores que buscam uma lógica rígida dentro da construção de mundo. A apreciação pela profundidade temática de Hunter x Hunter convive, assim, com a frustração pela aparente previsibilidade estrutural em torno dos personagens secundários e dos ambientes.