Análise levanta questionamentos sobre a representação do foco romântico feminino em naruto
Uma reavaliação da obra Naruto destaca uma constante nas personagens femininas centrais: a projeção de um relacionamento como destino, independente do interesse masculino discutido.
Durante uma análise minuciosa da saga Naruto, observada em sucessivas revisões, uma característica recorrente no desenvolvimento das principais personagens femininas chamou a atenção de críticos e fãs. A questão central gira em torno de como Ino, Hinata e Sakura estruturam suas aspirações românticas, muitas vezes tratando a conquista de seu interesse amoroso como um resultado iminente, quase pré-determinado, sem aparente validação mútua dos envolvidos.
Embora a obra seja elogiada por explorar o crescimento dos protagonistas masculinos, a narrativa dedicada às mulheres, apesar de demonstrar empoderamento em outras esferas, apresenta um padrão de comportamento que beira a unilateralidade obsessiva, contrastando com a complexidade de outros romances estabelecidos dentro do mesmo universo, como o de Minato e Kushina.
A obsessão masculina como um pressuposto
O caso de Ino Yamanaka ilustra bem esse ponto. Sua rivalidade inicial com Sakura na infância foi motivada pela disputa por Sasuke Uchiha. A narrativa sugere que bastava superar Sakura para que o afeto de Sasuke estivesse garantido, ignorando completamente se o próprio Sasuke nutria algum sentimento pela Ino. Essa dinâmica estabelece uma competição externa como o único fator decisivo para o relacionamento.
Ao analisar Hinata Hyuga, o padrão se repete. Embora ela tenha feito uma confissão notável durante o arco de Pain e Naruto tenha demonstrado uma reação intensa após sua aparente morte, o progresso romântico durante a maior parte da série parecia inexistente do lado masculino. O foco de Hinata em se tornar forte era sempre justificado pela necessidade de estar ao lado de Naruto, não apenas como aliada, mas como parceira romântica, uma posição que parecia reservada a Sakura na ótica de muitos espectadores.
Sakura Haruno e a projeção de futuro
Sakura Haruno apresenta o exemplo mais extremo dessa construção narrativa. Desde a infância, havia uma visualização fixa de seu futuro ao lado de Sasuke Uchiha. A crítica aponta a dissonância entre o profundo desconhecimento de Sakura sobre a história de Sasuke, seu histórico familiar e traumas, e a firme convicção de que seu sentimento era maduro e correspondido. Mesmo após Sasuke tentar matá-la em diversas ocasiões e demonstrar total alheamento em momentos cruciais, como durante a batalha final contra Kaguya, a expectativa de que ele lhe pertencia ao retornar a Konoha permanecia inabalável.
O ponto mais intrigante para os observadores é como essas aspirações, baseadas em pouca ou nenhuma reciprocidade explícita, acabam se concretizando no final canônico para duas das três personagens mencionadas. O autor, Masashi Kishimoto, demonstrou capacidade em retratar amores não correspondidos realistas, como o de Obito por Rin, e relações saudáveis, como a dos pais de Naruto. No entanto, os laços formados por Ino, Hinata e Sakura são frequentemente questionados por estabelecerem um modelo de desejo que parece desconsiderar a autonomia do objeto de afeto.