Análise da constituição física de griffith: Uma questão de estética e simbolismo em berserk

A figura de Griffith, um dos personagens mais centrais e controversos do universo criado por Kentaro Miura em Berserk, transcende a vilania complexa, levantando debates sobre sua representação visual, especificamente sua constituição física. A maneira como seu corpo é desenhado ao longo da narrativa, tanto em sua forma humana quanto na sua transformação final como Femto, é crucial para entender seu simbolismo no mangá.

Em sua fase inicial como líder da Tropa do Falcão, Griffith é retratado com uma aparência que deliberadamente se afasta do arquétipo heroico musculoso, como o protagonista Guts. Enquanto Guts exibe uma musculatura densa, resultado de anos de luta incessante e esforço físico brutal, Griffith possui uma estrutura magra, quase etérea. Essa diferença foca a atenção do leitor em sua presença carismática e poder estratégico, mais do que na força bruta.

A Estética da Aspiração

A constituição de Griffith pode ser descrita como astenica ou esguia, com pouca massa muscular aparente, o que é intencional. Ele personifica a beleza idealizada e a fragilidade superficial que esconde uma ambição implacável. Essa estética corporal sutil alinha-se perfeitamente com sua personalidade: ele manipula os outros através de sua visão, seu apelo e sua promessa de um reino, e não através da intimidação física direta.

A magreza de Griffith também pode ser interpretada como um reflexo de seu sacrifício. O rigor da sua jornada, a dedicação total ao seu sonho, e a subsequente transformação pela Mão de Deus, sugerem que ele subjugou as necessidades físicas básicas em prol de um objetivo maior. Ele não carrega o peso físico da batalha como Guts, mas sim o fardo da sua ambição, que é representado por sua aparência quase frágil.

A Transição para Femto

A mudança mais drástica ocorre após o Eclipse, quando ele renasce como o quinto membro da Mão de Deus, Femto. Essa forma elimina completamente qualquer traço de fisicalidade humana. Femto é uma entidade puramente demoníaca, cujas proporções são distorcidas e alienígenas, reforçando sua saída do plano mortal e sua adesão ao transcendental, ou seja, ao infernal.

A comparação de sua fisiologia com a de outros personagens, como Corkus ou até mesmo Casca, que apresentam corpos mais convencionais para guerreiros, solidifica a ideia de que o corpo de Griffith era um veículo para sua ascensão, e não um fim em si mesmo. Sua aparência sempre foi uma ferramenta de persuasão, um reflexo estético de sua meta final, independentemente da forma física necessária para alcançá-la.

A análise da constituição de Griffith, portanto, revela uma escolha artística deliberada do autor para sublinhar temas de sacrifício, idealização e a natureza ilusória do poder em Berserk, um mangá que continua a ser estudado por sua profundidade narrativa e visual, conforme explorado em análises sobre a obra de Miura.