Análise compara semelhanças entre o vilão mozgus de berserk e judge holden de "meridiano de sangue"
A figura imponente e a filosofia radical de Mozgus, de Berserk, ecoam a complexidade sombria de Judge Holden, de Meridiano de Sangue.
A análise das inspirações visuais e temáticas no mundo do mangá Berserk, obra-prima de Kentaro Miura, frequentemente revela profundas conexões com a literatura clássica de horror e ficção sombria. Um ponto de convergência particularmente notável tem sido levantado ao comparar o Apóstolo reformado e Inquisidor Mozgus com a figura notória de Juiz Holden (Judge Holden), antagonista central em Meredith Road, de Cormac McCarthy.
A presença imponente e a ideologia destrutiva
Mozgus, em sua forma final como a montanha de carne e poder divino, possui características físicas que desafiam a compreensão. Sua escala monumental e sua aparente onipotência serviram como um marco de terror e inflexibilidade dentro do arco da Convocação. Ao examinar paralelos, percebe-se uma ressonância clara com a personificação do mal e da filosofia anárquica que Judge Holden representa na aclamada obra literária.
Judge Holden, frequentemente descrito como um ser sobrenatural e indestrutível, é o arauto da destruição e da total ausência de moralidade, vendo a guerra e o caos como as únicas realidades puras. A semelhança transcende apenas o aspecto físico monstruoso. Ambos os personagens representam forças que se colocam acima de qualquer estrutura social ou crença religiosa estabelecida, embora de modos diferentes: Mozgus como um falso profeta que destrói a fé para impor a sua, e Holden como a própria personificação do niilismo.
Filosofia de poder e controle
O Inquisidor Mozgus, antes de sua transformação final, já era um homem de poder absoluto dentro da Igreja, pregando a erradicação da heresia e a imposição de uma ordem rígida. Sua convicção inabalável e a crueldade metódica lembram a maneira pela qual Holden manipula e destrói aqueles que encontra, sempre baseado em uma lógica interna perversa e infalível.
Os detalhamentos gráficos da obra de Miura eram conhecidos por sua densidade e referências cruzadas. A forma como ele construía seus antagonistas poderosos, que fossem além de meros demônios ou vilões previsíveis, exigia um estudo aprofundado de arquétipos literários. O Juiz Holden, por exemplo, é um dos personagens mais estudados da literatura americana moderna, sendo um estudo sobre o mal filosófico, o que torna plausível que um autor do calibre de Kentaro Miura tenha extraído elementos conceituais para moldar a catarse final de Mozgus.
Essa conexão entre o Apóstolo torturado e o monólito filosófico de McCarthy sugere uma intenção deliberada de ancorar o terror de Berserk em raízes narrativas profundas, transformando os confrontos em batalhas não apenas físicas, mas ideológicas contra a natureza da tirania e do vazio existencial. A complexidade desses vilões enriquece a narrativa e solidifica o legado de Kentaro Miura como um mestre da construção de mundos sombrios.