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Análise crítica questiona o status de berserk como maior mangá de fantasia sombria

Uma análise aprofundada questiona se Berserk é realmente o auge da fantasia sombria, apontando falhas no desenvolvimento de personagens e ritmo.

Analista de Mangá Shounen
13/12/2025 às 13:40
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A obra Berserk, escrita e ilustrada pelo falecido Kentaro Miura, ocupa um lugar quase sagrado no panteão dos mangás, especialmente no gênero de fantasia sombria. Contudo, uma análise detalhada da narrativa sugere que o status lendário da série pode estar superestimado, com críticas focadas na estrutura de seus arcos posteriores, caracterização e no tratamento de sua protagonista feminina.

O Contraste entre a Era de Ouro e o Conteúdo Posterior

O entusiasmo geral pela série frequentemente se concentra na Era de Ouro, um período narrativo amplamente reconhecido por sua excelência em construção de mundo e desenvolvimento dramático, culminando no brutal Eclipse. Este segmento inicial, que explora a ascensão e queda da Banda do Falcão, é inegavelmente poderoso e visceralmente perturbador.

No entanto, a crítica aponta que essa excelência constitui apenas uma fração da obra total. O restante da saga, que abrange os arcos subsequentes como a Convicção e a jornada de Guts como Espadachim Negro, falha em manter o nível de complexidade estabelecido. Argumenta-se que o mangá passa a depender excessivamente de conteúdo de choque e violência gratuita em detrimento de uma profundidade temática genuína.

Desenvolvimento do Protagonista e Casca: Pontos de Fratura

Guts, o protagonista titular, é frequentemente celebrado por sua resiliência e complexidade como personagem traumatizado. A observação crítica, porém, sugere que, por longos períodos, Guts regride a uma máquina de vingança, com sua intrincada vida interior, tão evidente na Era de Ouro, sendo frequentemente obscurecida por sequências de ação intermináveis. O desenvolvimento de seu conflito interno parece intermitente, em vez de constante.

O tratamento dado a Casca, a principal personagem feminina, é outro ponto focal de crítica severa. Iniciando como uma guerreira competente e com agência própria, após o Eclipse, ela é drasticamente reduzida a uma figura de vítima indefesa e sem voz por décadas de publicação. Defensores alegam que isso reflete a natureza devastadora do trauma, mas a tese contrária sustenta que reduzir uma personagem complexa a um mero dispositivo de enredo por tanto tempo é narrativamente regressivo e frustrante.

Ritmo Narrativo e a Dissipação do Mundo

Estruturalmente, o mangá sofre com problemas de ritmo notórios, especialmente nos arcos mais longos que se seguiram. O infame Arco do Barco é citado como um exemplo onde o ímpeto narrativo construído anteriormente se dissipa em longos períodos de pouca progressão de história ou desenvolvimento de personagens. Mesmo lido em compilação, o arrasto dessas seções compromete a urgência da trama.

Além disso, a construção do mundo revela uma mudança drástica. Enquanto a Era de Ouro oferece um cenário medieval tátil e politicamente tangível, a introdução massiva de elementos fantásticos nos arcos posteriores é vista como excessivamente genérica. O mundo de Berserk, em vez de expandir sua singularidade, parece adotar tropos de fantasia tradicionais, diluindo a atmosfera distinta que o caracterizou inicialmente.

O Culto da Intocabilidade e a Questão da Obra Inacabada

Um argumento substancial reside na forma como a comunidade do mangá reage a qualquer forma de crítica. A suposta devoção quase religiosa à obra cria um ambiente onde questionamentos sobre o ritmo lento ou a caracterização superficial são prontamente rejeitados, impedindo um diálogo honesto sobre os méritos e as falhas de Berserk. Reconhecer a arte espetacular de Miura não deve significar ignorar as deficiências do roteiro.

Por fim, a impossibilidade de uma conclusão satisfatória formaliza a questão. Avaliar Berserk como uma obra-prima definitiva é avaliar um projeto incompletamente realizado. A ausência do final planejado por Miura deixa as resoluções de inúmeros fios narrativos em aberto, tornando qualquer julgamento final inerentemente parcial. A obra permanece como um conjunto de momentos brilhantes pontuados por extensas seções de qualidade irregular, distantes do panteão inacessível que lhe é frequentemente atribuído.

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Tags:

#Mangá #Crítica #Berserk #Kentaro Miura #Superestimado

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.

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