Análise complexa: Quem é moralmente superior no universo de berserk

A complexidade moral é um pilar fundamental na narrativa sombria de Berserk, a aclamada obra de Kentaro Miura. Uma questão que constantemente surge entre os apreciadores da série é a tentativa de definir quem representa o personagem mais correto ou moralmente superior entre os protagonistas centrais, Guts e Griffith.

Essa comparação não é simples, pois ambos os personagens são forjados por tragédias profundas e trilhas distintas. Guts, o espadachim negro, é movido inicialmente por um desejo bruto de vingança, uma reação direta aos traumas infligidos por Griffith. Sua jornada é marcada pela luta constante contra forças sobrenaturais e seu próprio desespero, personificando a resistência humana contra o destino cruel.

As motivações conflitantes: sacrifício versus ambição cega

Para entender a dicotomia, é preciso examinar suas ambições. Griffith, antes de se tornar Femto, era um líder carismático cujo sonho de possuir seu próprio reino superava quaisquer laços pessoais. Este desejo o conduziu ao Eclipse, um evento onde ele sacrificou todo o Bando do Falcão, incluindo Casca, para alcançar seu objetivo supremo.

Do ponto de vista estrito da ética kantiana ou de uma moralidade convencional, o ato de Griffith é inegavelmente maligno, representando a mais abjeta traição e o mal em sua forma mais calculada. Seu caminho envolveu a anulação da vida e da sanidade de seus companheiros mais próximos em nome de um ideal pessoal.

A evolução da pureza de Guts

Guts, por outro lado, inicia sua saga respondendo a um mal concreto. Sua violência é reativa. No entanto, ao longo da história, sua luta evolui de vingança pessoal para um desejo de proteger aqueles que ele aprendeu a amar, como Casca e a nova irmandade que forma. Ele representa a agonia da sobrevivência e a busca desesperada por um propósito maior que a morte inevitável.

A superioridade moral de Guts reside na sua capacidade de redenção e no seu apego à humanidade, mesmo diante de ferimentos físicos e psicológicos imensos. Ele rejeita o caminho do poder fácil e demoníaco oferecido pelo Mundo Astral, escolhendo suportar o fardo da espada e da dor para manter viva a chama da conexão humana.

O papel do contexto na avaliação ética

A análise da moralidade em obras fantásticas como Berserk exige que se considere o contexto de um mundo governado por eventos kármicos e pela intervenção divina ou demoníaca. Griffith optou por abraçar o mal cósmico para alcançar o poder necessário para realizar seu sonho, enquanto Guts luta para existir em um mundo que parece conspirar ativamente contra sua felicidade.

Portanto, enquanto um personagem ascendeu através da destruição absoluta de sua própria humanidade, o outro conseguiu, a duras penas, preservar o núcleo de sua alma e seu senso de responsabilidade para com os outros. A luta contínua de Guts contra as forças da condenação, e sua insistência em lutar por um futuro, o colocam em uma posição moralmente mais elevada no espectro narrativo da dualidade apresentada na obra.