Anacronismo de móveis no mundo de "kimetsu no yaiba": A questão da poltrona "bean bag"

A cronologia da era Taishō em "Kimetsu no Yaiba" colide com a invenção de um item de conforto moderno, gerando questionamentos visuais.

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Analista de Mangá Shounen

12/11/2025 às 14:05

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Anacronismo de móveis no mundo de "kimetsu no yaiba": A questão da poltrona "bean bag"

A ficção histórica, mesmo quando ambientada em períodos específicos, frequentemente realiza liberdades criativas que podem, ocasionalmente, gerar debates entre observadores atentos. Um ponto de discussão recente reside na ambientação de Kimetsu no Yaiba (Demon Slayer), cuja narrativa se desenrola majoritariamente entre 1912 e 1926, coincidindo com a era Taishō no Japão.

O foco da análise recai sobre a presença de um tipo específico de assento: a poltrona "bean bag", ou saco de feijões. Embora seja um elemento de conforto visualmente reconhecível em certas representações da série, sua introdução histórica é notavelmente posterior. O primeiro design de uma poltrona preenchida com algum tipo de material granulado e maleável, que se assemelha ao conceito moderno de "bean bag", foi patenteado e popularizado apenas em 1967, nos Estados Unidos.

A discrepância temporal e o conforto dos antagonistas

Essa diferença de quase cinco décadas entre o período fictício e a data de invenção do móvel cria um claro anacronismo. Especificamente, o personagem Douma, um dos membros mais poderosos dos Doze Kizuki da organização demoníaca, é visto em cenas utilizando este tipo de assento, que contrasta drasticamente com os estilos de decoração esperados para os anos 1910 ou 1920 no Japão.

Na era Taishō, o mobiliário japonês tradicional tendia a enfatizar materiais naturais, como tatames, futons e móveis de madeira com design minimalista ou, em contextos mais ocidentalizados, cadeiras e sofás estofados seguindo tendências europeias da época. A poltrona "bean bag", com sua estrutura amorfa e preenchimento de isopor ou material similar, representa um conceito de design totalmente alheio àquela época.

Interpretação da licença artística

No universo de animes e mangás que buscam replicar um cenário histórico, essas liberdades são frequentemente tomadas em nome da visualização ou da convenibilidade dramática. Para o público moderno, a representação de um personagem poderoso relaxando em uma poltrona descontraída é instantaneamente reconhecível como um símbolo de ostentação e conforto absoluto, atributos que se alinham com a personalidade cínica e superior de Douma.

A inclusão de itens anacrônicos serve, muitas vezes, como uma ferramenta narrativa subliminar. Enquanto o estúdio responsável pela adaptação do mangá, Ufotable, se dedica a recriar com precisão os trajes da era Taishō e a arquitetura tradicional, esse pequeno detalhe de mobiliário sugere que a prioridade máxima foi dada à transmissão da sensação visual moderna sobre a fidelidade absoluta ao cronograma de patentes de móveis do século XX.

Portanto, a poltrona "bean bag" de Douma funciona menos como um artefato histórico preciso e mais como um elemento de caracterização, transcendendo as barreiras do tempo para sublinhar o status de um antagonista que vive em sua própria realidade, mesmo que ela viole a cronologia de invenções de objetos domésticos.

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Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.