A ambição de griffith: O desejo por um reino e suas implicações na narrativa de berserk

O personagem Griffith, figura central e complexa da aclamada série Berserk, transcende a simples figura de um líder carismático ou antagonista. Uma das facetas mais intrigantes de sua jornada é sua incessante e quase mística busca por um reino. A questão fundamental que permeia sua motivação não é apenas a posse de terras ou poder político, mas sim o significado intrínseco desse domínio para sua identidade e seu destino cósmico.

Para compreender a profundidade desse anseio, é crucial contextualizar a trajetória de Griffith. Originário de origens humildes, ele demonstrou desde cedo uma inteligência tática e uma capacidade de fascinação poucas vezes vistas. Mais do que riqueza, o reino simbolizava a materialização de sua visão de mundo, um palco onde ele não seria mais um mercenário dependente, mas sim a força motriz de uma nova ordem.

O Reino como Sinônimo de Independência e Sonho

O desejo por um reino, nesse universo sombrio criado por Kentaro Miura, parece ser a ponte entre o humano e o transcendente. Um reino confere legitimidade absoluta e poder incontestável. Para Griffith, cujo sacrifício subsequente o elevou a um patamar divino, o reino seria a fundação terrena sobre a qual seu domínio espiritual seria construído. Sem esse pilar de estabelecimento social e político, sua ascensão poderia ser vista apenas como um golpe de sorte ou uma façanha temporária.

A busca por um império reflete uma necessidade de controle total sobre seu ambiente. Em um mundo onde a crueldade e o caos prosperam, possuir um reino estabelecido significa criar um espaço de ordem sob sua égide. Isso difere da ambição de Guts, por exemplo, cujo foco é a liberdade pessoal e a superação de traumas passados. Griffith busca a ordem imposta; Guts, a ordem conquistada através da luta individual.

A Relação entre Visão e Domínio

A ambição de Griffith não é puramente egocêntrica no sentido banal. Ela está profundamente ligada ao seu dream, seu sonho maior, expresso em sua famosa frase sobre desejar um senhorio onde pudesse ser o rei. Esse sonho exigia um palco grandioso. O que ele faria com tal reino, uma vez conquistado, é um exercício de especulação fascinante. Provavelmente, usaria a estrutura real como ferramenta para concretizar sua visão messiânica, preparando o terreno para a Era das Trevas ou para a ascensão de seu novo ser.

A análise desse objetivo revela que o reino era a chave para invalidar qualquer potencial fraqueza humana remanescente. Ser um rei significaria transcender as limitações da mortalidade e da dependência, estabelecendo um legado que sobreviveria, mesmo após a inevitável transformação que o aguardava. A complexidade de Griffith reside exatamente na forma como ele instrumentaliza os laços humanos e as estruturas sociais para catalisar seu destino singular.